domingo, janeiro 23, 2011

O SER HUMANO NO MUNDO DO TRABALHO

O amanhecer se aproxima. Deitado em minha cama observo os primeiros sinais de que o novo dia está chegando. A escuridão já não existe mais e o cantar do galo decreta que o nosso período de descanso acaba de completar-se.


Desejo dormir mais um pouco mas não consigo. Estou ansioso pelas realizações que nos espera.
A minha avó já começa mexer nas panelas para preparar o delicioso café da manhã enquanto meu avô já conversa com as vaquinhas no curral. Na mais perfeita ordem elas se aproximas para a oferta do dia: o delicioso leite quentinho.

Sabem que por recompensa serão conduzidas para as deliciosas pastagens que se formaram depois das primeiras chuvas de Janeiro. Eu tento imaginar o quanto irão se alegrar correndo pelos campos e no estridente ressoar dos chocalhos que tocarão ao ritmo de suas passadas.
Um pouco mais de tempo, minha avó anuncia:
_ Minineira acorda! O café já está pronto e precisamos seguir par a lida.
O farto café da manhã, reforçado com cuscuz de milho ao leite e com o gerimum cozido no dia anterior nos fortalece e nos encoraja para o trabalho.

Todos para a lavoura!
Eu, menino pequeno e neto querido na casa de meus avós vivenciava o privilégio das tarefas que a minha incipiente musculatura permitia. E não era pouca coisa: subia nos pés de fruas para fazer a colheita matinal.

Dos cajueiros vinham os frutos para o preparo do suco do almoço e das mangueiras vinham o lanche da tarde. A água de coco, devido a pequena quantidade, só era servida em ocasiões especiais, quando recebíamos visitas.

Após a colheita dos frutos eu ia para o roçado, onde estavam trabalhando o meu avô e os meus tios Josemar e Luismar. Eles era muito hábeis na lima do mato. Após sua passagem pelo meio dos leirões, dava para ver o quanto os pés de mandioca, feijão ou milho podia sorrir ao sabor do suave vento que vinha do leste, do mesmo lugar do nascer do sol. Do litoral que abriga a bela cidade de João Pessoa, capital do querido estado Paraíba. Terra de grandes compositores e cantadores.

Ainda consigo me lembrar das minhas carreiras pelo meio dos leirões. Pisando na terra macia, que amortecia as passadas sem prender os pés. Aquela era uma das maiores sensações de liberdade das quais consigo me lembrar. Ao abrir os braços, podia perfeitamente simular as "peneiras" que planavam pelo céu, com seus olhares atentos em busca do alimento ou, então, um daqueles pequenos aviões que sobrevoavam pelo céu, transportando os "bruguês" como se referia a minha avó, ao tratar das pessoa de melhor poder aquisitivo. Seja já como fosse, em meus pensamentos, a vida era plena e cheia de significado.

Analisando hoje, posso imaginar que a visão poética que tinha e continuo tendo da vida podia não ser a mesma visão compartilhadas dentre os meus avós e meus tios, mas a minha presença lá, mesmo que nos períodos de férias, dava ao pequeno sítio, um significado diferenciado para os que lá moravam.

Ao término de cada dia, havia um cansaço físico generalizado dentre todos mas havia uma grande satisfação pelo dever cumprido. pós o banho de cúia e o delicioso jantar, todos estávamos preparados para mais uma suave noite de sono.

O mundo do trabalho era o meio de conquistar o pão nosso de cada dia, o meio de promover o metabolismos corporal a aumentar suas defesas e o meio de entretenimento.
O advento das facilidades do mundo moderno impuseram ao ser humano o sufocante sedentarismo. Com seu trabalho ele conquista o pão para si e para muitos a um tempo muito menor. Por outro lado ele não mais se diverte em trabalhar e quanto mais trabalhar, mais deixa o próprio corpo preguiçoso. Descansar para o ser humano moderno é ir par algum lugar para não fazer nada. Exercitar o corpo é realizar os movimentos monótonos em máquinas. Tranquilizar a mente é tomar um comprimido para poder dormir. Se divertir é imitar algum comportamento que seus ancestrais aprenderam com a natureza, em contato com as plantas e com os animais.

Parece curioso, mas eu me sentia mais ave correndo pelos leirões com os braços abertos enquanto observava o voo das peneiras, do que me sinto hoje em dia encapsulado em um avião. No avião não dar para sentir o vento soprar os nossos cabelos.

Parece curioso, mas me sinto mais trabalhar quando toco a terra com minhas mãos e sinto suas diferentes texturas, humidades e temperaturas do que trancafiado em escritórios, analisando números.
Ao analisar números distantes da fonte de origem, não consigo conectar meu pensamento as situações reais nas quais tomaram significado.

Parece curioso, mas o funcionamento do meu corpo responde melhor as inferências propagadas na manipulação da terra do que no movimentos repetitivos realizados nas academias. Ao olhar para trás nas academias, não consigo perceber por onde passei porque estou no mesmo lugar. Somos serem transformadores, não vejo sabedoria em dispensar energia para o meio ambiente se em troca desta, a natureza não poder sorrir como sorriam os pés de milho, mandioca e feijão após a limpa do mato à sua volta.

Parece curioso, mas descobri que ao trabalhar com a terra e dela fazer surgir os frutos do meus trabalho, descobri que dentro de mim jorrava rios de sensações que dispensavam o uso de medicamentos para poder dormir. Enquanto o meu corpo cansava, a minha mente se renovava. Talvez seja por isso que minha avó tenha convivido por mais de dezesseis anos com doenças que degradaram seu corpo, mas mantiveram sua mente saudável para se lembrar das melhores passagens de sua vida e recontá-las para mim, quando lhe visitei pela última vez.

Certa vez, após analisar nos mínimos detalhes o prontuário de seu paciente, o médico lhe recomendou:

_Faça caminhada, tome ar puro, beba água fresca, alimente-se de cardápio variado com atenção especial para frutas e verduras colhidas ao tempo certo, faça o que o seu corpo precisa e não o que sua mente deseja. 

Passados alguns meses o paciente retornou ao médico e disse:

_Doutor, vim lhe agradecer. Sou um novo homem.

Para a surpresa do médico seu paciente ainda estava vivo.

Conforme sabemos, os medicamentos farmacêuticos trouxeram grandes benefícios para a sociedade moderna, no entanto, ainda não existem medicamentos conhecidos para todas as doenças. Em muitos casos, os custos são tão elevados que as pessoas não podem pagar. Além do mais não acredito que medicamento algum, por si só, será o responsável pelas curas para os males que nos afeta. Na verdade acredito que, os males adquiridos pelo distanciamento do ser humano do mundo do trabalho, só serão reparados pelo retorno à este mundo.

O trabalho em sua forma mais ampla de ser, envolve a interação do ser humano com o meio ambiente por meio de todos os sentidos dos quais dispuser e for seguro fazer uso. Precisamos receber os nutrientes necessários, mas também precisamos dispensá-los quando estiverem em excesso. Urinar, defecar, suar, são condições essenciais do bom funcionamento do organismo.

Suar de tão importante, transformou-se pela sabedoria popular em sinonimo de trabalho.

Suor, como o de Jesus Cristo que correu como gotas de sangue. E sangue que representa a vida.

Suor como sinonimo de trabalho, portanto, é sinonimo de vida.

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