sábado, maio 17, 2014

A crise da ética universal

"[...] a crise ética universal é um movimento que se traduz na tentativa do Ser Humano, mesmo que de forma não intencional, de destruir a si mesmo."

Parece prematura a afirmação de que o outro é antiético mas soa prudente compreender que é possível ao outro não partilhar dos mesmos princípios éticos que eu.

Ao examinar a si mesmo, sua relação com as outras pessoas, semelhanças, modos de agir e de pensar e, sentir as necessidades fundamentais confluentes, o Ser Humano terá condições de perceber aquilo que o diferencia dos demais seres vivos e de decidir sobre se há um dever natural de zelar pelos seus semelhantes. A percepção de si enquanto Ser Humano em equilíbrio com o outro associada a ação em favor da paz coletiva combina com o que chamamos de ética universal. Ética que implica em compromisso e corresponsabilidade.
É possível sentir no falar e no agir do outro se os seus valores coincidem com os nossos ou, se despertam em nós um sentimento de que tal proceder é, ou não, ético. Mas este, enquanto julgamento nosso, não pode ser propagado como se fosse espelho da realidade. É algo muito mais para orientar nossas escolhas e nossas ações. Pelas nossas ações, falamos muito mais efetivamente e por elas marcamos os nossos posicionamentos políticos frente a realidade que se apresenta. É pelo nosso agir demonstramos o nosso compromisso com a ética.
Ética enquanto valor que orienta o modo operacional coletivo é um processo que vem constantemente sendo construído e reconstruído no tempo e espaço e por traz do sistema conceitual que a envolve, existem as tentativas de grupos sociais de adaptar ou reformar princípios éticos para fundamentar suas decisões e fazer com que sejam aceitas socialmente.
Princípios éticos nascem da partilha de significados. Podem ser construídos socialmente para o bem da coletividade ou sectariamente para o bem das classes sociais dominantes.
Quando pensamos em princípios éticos certamente pensamos em sentimentos de solidariedade, justiça, coerência, compromisso, companheirismo, i.e. Bom seria se esse pensar contemplasse a todos. E é com, por e para todos que imagino os processos revestidos de ética.
Por outro lado, quando julgamos injusta a ação do outro para conosco ou para com os demais, lançamos sobre ele o sentimento de que em  "seu lugar" tomaríamos decisão diferente. Ao julgar a ação do outro pelas nossas próprias lentes não nos tornamos mais ou menos justos. Pela razão de ser do julgamento, também questionável do ponto de vista do outro observador, implica em tropeço nos fundamentos que sabidamente entendemos éticos.
Apenas ao ser humano e somente a ele cabe a escolha de ser o que deseja ser. Qualquer tentativa externa de promover transformação sem seu consentimento se constitui para ele, algum tipo de violência. Não obstante a este pensamento, quando os seres humanos reconhecem em seus princípios individuais ou admitem-se transformar em favor do bem coletivo, de algum modo corrobora para a universal.
Inoportunamente, com o processo de globalização avançamos para situações nas quais princípios éticos de grupos sociais se tornaram tão remendados que já não podemos ou já não nos sentimos mais preparados para discutir ética universal. Ou seja, retornamos para a discussão sobre éticas de clãs, guetos e tribos. Ética de sindicatos, partidos políticos, conselhos profissionais, federações, confederações, clubes, i.e. Cada um com sua ética diferente.
Algo como pensar:
"É antiético não cuidar de um membro do nosso grupo, mas seria antiético acometer sofrimento ou negligenciar socorro a um membro de outro grupo?"
Caso a resposta seja não, "ao meu olhar", a consolidação desse tipo de pensamento reforça a ideia de que o ser humano desconhece que é parte de um todo e ao ofender ao outro, ofende a si mesmo. Ou seja, no afã de resguardar a si e apenas a si, ou ao seu grupo, expõe sua existência ao fracasso.

Portanto, a crise ética universal é um movimento que se traduz na tentativa do Ser Hmano, mesmo que de forma não intencional, de destruir a si mesmo.
 

domingo, maio 11, 2014

Quando o poder público prefere investir no ensino privado?


[...] Esquecemos apenas de uma coisa, com a falência dos serviços públicos e a supremacia das empresas privadas, o Estado brasileiro perderá a capacidade de amparar os mais necessitados. Neste caminho já estivemos outrora, quando o Estado Brasileiro caminhava segundo o aval do Fundo Monetário Internacional. De igual maneira o Estado totalitário não é o que queremos nem o que precisamos, esta ideia faliu com com a queda do muro de Berlim. O caminho do meio parece ser um bom lugar. Este caminho depende de cada um de nós.

O Art. 206 da Constituição Federal de 1988 e em seguida o Art. 3 da LDB de 1996 deliberam sobre os princípios segundo os quais o ensino deve ser ministrado. O inciso V do Atr. 3 da LDB define como princípio a "coexistência de instituições públicas e privadas".

Estas instituições precisam coexistir em estado de harmonia, complementando as ações que compõe o projeto de nação brasileira. Há que se esperar dessas instituições que se desenvolvam processos de educação de excelência. Não temos como pensar que estas instituições sejam concorrentes já que, em princípio abrangem seguimentos sociais diferenciados pelas condições econômicas, produtivas e geográficas.
 
Ao longo dos anos acompanhamos alguns comparativos desenvolvidos entre as escolas públicas e privadas, dentre os quais destacamos:
 
Escola Pública
Escola Privada
Alunos das classes populares
Alunos de pelo menos classe média
* Professores mal remunerados (no Distrito Federal, muitas escolas particulares oferecem remuneração inferior às escolas públicas)


Professores bem remunerados
Recorrentes paralização das aulas (decorrentes, principalmente de movimentos grevistas)

Raras paralizações das aulas (aparentemente as condições de trabalho são melhores)
Recursos didáticos deficitários
Recursos didáticos diversificados
Menor percentual de alunos egressos aprovados em vestibulares (sobretudo em áreas mais concorridas)
Maior percentual de egressos aprovados nos vestibulares.
Escolas mal estruturadas
Escolas bem estruturadas
Acolhimento aos alunos repetentes
Intolerância a alunos repetentes
Muitos registros de vandalismo
Poucos registros de vandalismo
A educação enquanto instrumento de possibilidades de conquistas
A educação enquanto instrumento de reafirmação de conquistas
Baixo interesse pela aprendizagem
Alto interesse pela aprendizagem
Incentiva-se ao professor que faça cursos
Exige-se do professor que saiba mais
O professor deve ser ouvido e respeitado
O professor deve ouvir e obedecer
O papel do gestor é apaziguar conflitos
O papel do gestor é produzir resultados
Se a educação vai mal buscam-se alternativas
Se a educação vai mal, trocam-se os professores
Se o aluno está com problemas convida-se os pais para irem a escolas
Se o alunos está com problemas os pais vão a escola exigir explicações
O Estado assume o dever de educar
As famílias são conscientes do próprio dever de educar
O sucesso dos alunos dignifica o trabalho dos professores
O sucesso dos alunos favorece a propaganda da escola
O aluno é um ser em formação
O aluno é, antes de tudo, um cliente
O aluno vencedor diz “estudei em escola pública e venci”.
O aluno vencedor simplesmente comemora a vitória.
As metas são médio e longo prazo
As metas são de curto, médio e longo prazo
Bem verdade é que as instituições de ensino públicas e privadas coexistem mas os papéis sociais que desempenham são diferentes. Ora são papéis complementares, ora são papéis discrepantes. Ora geridos pela demanda social, ora geridos pela demanda econômica. Daí a minha inquietação: o que dizer quando os poderes públicos fazem a opção por construir, aparelhar ou contratar as instituições privadas para gerir processos educativos, ao invés de fortalecer ainda mais o sistema público de ensino?

Dos itens comparativos da tabela acima podemos inferir que alguns justificativas existem de sobra:

1) metas de curto prazo: as crises econômicas anunciadas em escala global se transformaram em indicativos de que algo havia de ser feito no Brasil para que o país continuasse crescendo em níveis suficientes para garantir o desenvolvimento social que o país precisava e ainda precisa. Foram realizados investimentos em infraestrutura, tecnologias agrícolas e industriais e expansão das universidades e da rede de educação tecnológica mas o gargalo da formação profissional permanecia inabalado. O Brasil precisava e ainda precisa de profissionais com qualificação técnica suficiente para ocupar os postos de trabalho em aberto. A solução que se apresentou ao governo federal foi firmar compromisso com o Sistema S, em primeiro momento e com outras empresas de educação da iniciativa primada, principalmente universidades e faculdades. Da experiência que se observa, a exemplo do que ocorre no Distrito Federal, pode-se observar que a agilidade das empresas privadas para preparar e aprovar planos de cursos, realizar processos seletivos e iniciar as aulas é cerca de cinco vezes mais rápido do que uma escola técnica mantida pela Secretaria de Estado de Educação e duas vezes mais rápido do que o Instituto Federal de Brasília. O que consideramos negativo neste sistema, pelo menos do ponto de vista da oferta, é que as localidades mais afastadas dos centros urbanos mais populosos e Brasília permaneceram desassistidas nos últimos três anos. Ou seja, existem casos em que os alunos precisam se deslocar por mais de 50 km para realizar formações nestas instituições privadas em plena capital federal.

2) foco nos resultados: objetivamente a capacidade das instituições primadas para produzir resultados conforme os investimentos realizados parece ser maior. No sistema público algumas variáveis tais como morosidade nos trâmites de execução orçamentária, carência de profissionais com formação necessária para gerir o processo de organização administrativa/pedagógica em nos níveis aceitáveis ao desenvolvimento dos programas, sujeição dos processos administrativos pedagógicos à vontade individual dos profissionais que  se encontram em processo de adoecimento e abandono funcional, dentre outros, podem se transformar em fatores limitantes da formação profissional. No caso das empresas privadas, os profissionais são contratados com uma finalidade específica. A permanência deles nas empresas está condicionada a própria capacidade de adaptação para atender as demandas advindas do sistema administrativo das empresas. Em desfavor do processo de formação em massa contabiliza-se a precariedade de sistemas de avaliação eficiente da qualidade dos cursos ofertados, principalmente porque no intuito de maximizar os lucros, as empresas realizam cortes exagerados nos processos de formação, tanto do processo de discussão teórico-metodológicos quanto do desenvolvimento de atividades práticas supervisionadas. Isto não implica dizer que as escolas públicas estejam melhor preparadas para realizar o trabalho ou que seus profissionais sejam melhor preparados. O diferencial das escolas públicas, é que distanciando-se das fórmulas prontas para preparar pessoas para o mercado de trabalho, considera a peculiaridade do ser que aprende e oportuniza momentos de aprendizagem para além do que está predefinido pelos programas, algo de positivo a ser considerado nos processos em consideram o sujeito como agente da própria formação.
3) custo X benefício: do ponto de vista da formação de técnicos em termos numéricos, certamente o governo gasta menos comprando vagas nas escolas privadas do que gerando vagas nas escolas públicas. Um dos argumentos recorrentes dentre os gestores do sistema público é que não se deve contratar profissionais de áreas específicas para trabalhar em cursos em que dentro de 10 ou 15 anos, os mercados da área estarão saturados enquanto os profissionais ainda permanecerão mais 15 ou 20 anos na folha de pagamento do Estado. Algumas experiências vivenciadas no Distrito Federal serviram de base para fundamentar estes argumentos como foi o caso da extinção das disciplinas de Práticas Integradas ao Lar e Práticas Agrícolas Extrativistas em que muitos profissionais tiveram dificuldades para se adaptar à outras áreas e o Estado não conseguiu encontrar alternativas eficientes para acomodá-los em outras funções. Se estes profissionais estivesses na iniciativa privada teriam que passar por processos imediatos de requalificação profissionais para posteriormente serem contratados pelas empresas. Além do mais, na iniciativa privada os profissionais insatisfeitos não tem os mesmo direitos dos funcionários públicos, tais como abono de ponto, licença prêmio, plano de cargos e salários em constante processo de discussão, coordenação pedagógica remunerada (escolas públicas do distrito federal), estabilidade empregatícia, dentre outros. Tais direitos resultam em custos para o Estado. Apenas para se ter uma ideia, se cada funcionário da escola em que trabalho, que forma 600 alunos por ano ganhasse salário semelhante ao que ganho, o custo do Estado apenas com pagamento de salários seria de R$12.000.000,00 por ano. O que equivaleria a afirmar que o custo da formação de um profissional, apenas com pagamento de pessoal seria da ordem de R$ 30.000,00. Um absurdo se considerarmos que é possível realizar um curso de Pedagogia de 4 anos em Brasília a um custo total de R$ 24.000,00. E maior absurdo ainda se for observado que uma instituição de internação juvenil que conta com três funcionários para cada interno a um custo médio de R$ 10.000,00 por funcionário custa ao Estado em um único mês, o custo de formação completa em um curso técnico ou superior. Daí conclui-se que custo X benefício, é algo tão relativo em Brasília ou no Brasil. E se contabilizarmos a qualidade dos processo de formação deficitária em muitas instituições, ainda seriam obtidos números muito mais absurdos. Para baratear os custos as instituições privadas já não contam mais com salas de aula no padrão de 45 alunos. Em seus modernos auditórios concentram-se centenas de alunos . Em seus métodos de ensino subjaz a ideia de que ver e ouvir significa aprender. Já as instituições públicas, em seus processos metodológicos ultrapassados, concentram-se as ideias do corpo a corpo, do olho no olho, do mão na massa. Seria bom se as instituições públicas pudessem combinar ser processos metodológicos com os recursos tecnológicos de última geração, com formações prolongadas, mas tudo isso é custo, em uma máquina pública que clama por socorro e acaba encontrando refrigério temporário nas instituições privadas, eficazes, do ponto de vista da quantidade, mas nem sempre eficientes do ponto de vista da qualidade. A qualidade depende, dentre outras coisas, da vontade do ser que aprende, da preparação e do compromisso do ser que se predispõe a ensinar. No final das contas, o custo benefício será definido pelas pessoas envolvidas no processo formativo e as pessoas envolvidas no processo de gestão são apenas espectadoras.
4) minimização de conflitos com movimentos grevistas: os movimentos grevistas que se estabeleceram no Brasil nos últimos anos são marcos importantíssimos das conquistas dos trabalhadores em processo coletivo. Por outro lado os diversos particionamentos das categorias profissionais, cada uma lutando por interesse de grupo, acabaram por vitimar toda sociedade, ou seja as lutas individuais por melhores condições de trabalho das classes trabalhadoras corroborou para a precarização dos serviços e colocou a população em pé de guerra. Por exemplo, quando os profissionais da educação entram em greve e as aulas são interrompidas, as mães e pais de família ocupam os meio de comunicação para combater os profissionais sob a alegação de que seus filhos estão sendo prejudicados e assim acontece com todas as categorias. O que faz com que os grevistas sejam vistos como vilões. Profissionais insatisfeitos, sentindo-se injustiçados prestam serviços de baixa qualidade, o que provoca o efeito cascata e o descrédito total dos serviços. Já as empresas privadas, que contratam seus profissionais por um período definido, com remuneração fixada em contrato não padece dos mesmos males. O lucro do patrão é calculado sobre a produção do trabalhador. Custos excedentes são transferidos para o contratante. Governos têm medo de movimentos grevistas porque temem perder votos. O Governo, refém do grevista eleitor e refém do usuário eleitor não terá outra alternativa a não ser reclinar-se à iniciativa privada. E pensar que nós, servidores públicos, somos os maiores responsáveis pelos processos de privatização na medida em que lutamos por melhores condições de trabalho, mas nos furtamos à prestação de bons serviços. E mais ainda, quando realizamos maus serviços no sistema público e bons serviços no sistema privado

E eu que taxei FHC de neoliberal, sou forçado a admitir que é muito mais vantajoso para o governo e para a população que as coisas se procedam desta forma, com a expansão dos serviços terceirizados. Nós, servidores públicos, somos corresponsáveis pela terceirização, pelo Estado mínimo e pelo neoliberalismo.

Esquecemos apenas de uma coisa, com a falência de todos os serviços públicos e a supremacia das empresas privadas, o Estado brasileiro perderá a capacidade de amparar os desamparados. Neste caminho já estivemos outrora. Neste caminho se encontram muitas nações. Por outro lado, o Estado totalitário não é o que queremos, esta receita faliu conjuntamente com queda do muro de Berlim. O caminho do meio parece ser um bom lugar. Este caminho depende de cada um de nós.
  

sexta-feira, maio 09, 2014

Brasília: território livre do analfabetismo!

A liberdade da prisão do analfabetismo é o primeiro passo e importante passo. A partir deste lançamos um novo desafio, o da profissionalização. Precisamos lutar para que as ferramentas das letras ajude cada cidadão e cada cidadã a se apropriar das ferramentas e das técnicas necessária ao fazer. O fazer que consolida a liberdade para lutar pela conquista de melhores salários para que, dignamente promovam a sustentabilidade dos seus lares.
 
Hoje, 09 de maio de 2014 às 11:00, no Palácio do Buriti em Brasília, o Brasil de um pequeno salto para a realização da maior conquista na área da educação que se pode ter. O Ministro da Educação, Excelentíssimo José Henrique Paim entregou ao Governador do Distrito Federal o Selo Território Livre do Analfabetismo.
 
Em sua fala, o ministro lembrou do Educador Paulo Freire e de sua incessante luta pela causa da educação e pela garantia de que as pessoas, pelo poder da palavra, se tornassem sujeitos construtores de  suas histórias. Já o governador, visivelmente emocionado lembrou das conquistas do seu governo em favor dos mais humildes.
 
Eu, juntamente com meus companheiros e companheiras de trabalho, em meio ao aperto das pessoas que se espremiam no salão principal do palácio, acompanhamos as poucas e contundentes falas em favor da luta dos trabalhadores e trabalhadoras alfabetizados e alfabetizadores. Estes, que de forma solidária relembraram a nós mesmos algo sobre os objetivos da luta dos educadores e educadoras:
 
Contribuir para que cada cidadão e cidadã exerça sua cidadania de forma plena, com dignidade, responsabilidade, cooperação, consciência, solidariedade, compromisso, respeito e fraternidade, Valores fundantes de uma sociedade que se pressupõe justa.
 
O DF tem se destacado nos últimos anos pelas denúncias de corrupção que atingiu importantes autoridades políticas e ao relatar em outras unidades federativas que somos moradores de Brasília, não escapamos das piadas sobre corrupção.
 
Eu, morador da periferia desta unidade, educador por vocação, naturalmente sinto-me constrangido ao ouvir comentários sobre este povo como se aqui houvesse se estabelecido o berço da corrupção, o que nem de longe seria verdade.
 
Nesta unidade federativa encontramos cidadãos originários de todas as partes do Brasil, o que me faz pensar que esta é a terra da solidariedade, que de braços abertos se encontra para receber os que para cá se destinam.
 
É bem verdade, que em muitos aspectos ainda somos aprendentes de outros estados, mas é bem verdade que a partir deste estado foram desencadeadas políticas públicas de importância inestimável para o país. A exemplo das políticas de transferência de renda, do respeitos a faixa de pedestres, das mudanças do sistema de acesso aos cursos superiores, dentre outras.
 
Este selo representa a conquista dos educadores e educadoras de cada canto do país que aqui se estabeleceram e que dos bons costumes dos seus Estados ajudaram e continuam ajudando a construir a cultura do Distrito Federal. Representa a conquista de governos sucessivos, que hora acertando e hora errando, foram delineando políticas de interesse público e social que enaltecem as qualidades deste povo. Representa a vitória do trabalhador que desejou partilhar da luz do conhecimento e que multiplicou sua jornada de trabalho para poder estudar as letras e mudar a sua forma de representar o mundo.
 
E aqui ressaltamos a importância de conviver uns com os outros, compartilhando significados, construindo ideias e realizando sonhos.
 
Hoje, da boca de um Deputado Distrital escutei que o Ser Humano precisa de três coisas para ser feliz: conhecimento, paixão pelo que faz e reconhecimento. As palavras do nobre deputado parece que representam bem este momento. Parabéns Paulo Freire, Parabéns DF, parabéns Brasil.
 

domingo, maio 04, 2014

Que haja inoscência!

Quem pode ser responsabilizado pelos atos de uma criança?

Conforme se expressa na Constituição de 1988:
Art. 227 -  É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
A criança tem direitos, deveres não?

A palavra dever associamos significados relativo necessidade, intenção, suposição, probabilidade, obrigação moral, [...], inseridos no saber ser, saber fazer, saber conhecer, saber compreender, saber aprender, ...
 
Partindo de pressuposto de que uma pessoa ao completar o seu ciclo de aprendizagens e de maturidade estará pronta para responder pelas suas próprias ações em sociedade, o saber apreendido no decorrer da infância, adolescência e juventude passa a ser entendido como dever. Enquanto isso as responsabilizações das ações praticadas pelas pessoas até completar-se o ciclo da juventude recaem sobre seus responsáveis legais: a família, a sociedade e o Estado.
 
Nós, que nos encontramos na fase adulta somos por juízo constitucional os responsáveis pela preparação das crianças, adolescentes e jovens para a vida adulta. Ao fracassar no cumprimento do que dispõe o Art. 207 da CF nos tornamos reféns daqueles a quem negligenciamos os direitos fundamentais.
 
... continua.

sábado, maio 03, 2014

Vulnerabilidade Socical em Planaltina - DF ou em outros lugares

A vulnerabilidade social pode ser entendida como processo que decorre da sucessão de ações de violência praticadas ou sofridas pela sociedade no que concerne ao abandono afetivo, abandono moral, abandono ético, abandono político, abandono econômico, abandono intelectual, abandono humanitário, abandono social. O ser abandonado é por natureza, um ser vulnerável.
 
Desde quando escutei da boca de um agente público que a vulnerabilidade social que atinge a população de Planaltina-DF é da ordem de 64% declinei-me em profunda preocupação e meu olhar sobre a cidade passou a ser mais criterioso.
Pensando com os meus botões: "se do montante de todos os moradores abstrairmos os servidores públicos, comerciantes e fazendeiros, o que sobra?"
 
- Trabalhadores que em grande medida são provedores de renda para muitos moradores de uma mesma residência;
- Pessoas que não estão inseridas no mercado formal com percapta familiar muita abaixo da renda geral das famílias do DF;
- Lares cujas estruturas familiares estão aquém das condições mínimas para a boa formação do indivíduo;
- Poucas oportunidades de qualificação profissional e emprego para pessoas em idade produtiva;
- Poucas opções de lazer para crianças, adolescentes e jovens.
 
Ou seja, a combinação: baixa renda familiar, poucas oportunidades de lazer, escassas oportunidades de acesso à qualificação profissional e emprego e desestruturação familiar, dentre outros fatores, resulta em vulnerabilidade social.
 
As consequências dessa conjunção de fatores é o desânimo e adoecimento precoce da população e a violência urbana, males que se repetem em grande parte dos municípios brasileiros.
 
Em primeiro olhar é possível que a população se convença de que a melhor forma de melhorar a saúde da população é construir e equipar unidade de saúde e, contratar mais médicos e outros profissionais da área.  O que na perspectiva da medicina curativa é bem verdade mas que do ponto de vista da medicina preventiva, outras situações precisam ser consideradas, dentre as quais, a vida emocional da pessoa, que é um dos postos de partida para o estado de bem estar ou mal estar, de saúde plena ou adoecimento pleno.

Com relação a violência urbana é prudente que se observe a violência enquanto fator sistêmico, aprende-se a ser violento expondo-se à violência, sofrendo a violência, sendo consumido por ela. Ser violento, por infelicidade, é uma opção pouco sensata, mas para muitas pessoas torna-se a opção que se apresenta:

- ser violento por precaução;
- ser violento por vingança;
- ser violento por status;
- ser violento por ser violento.

A população sofre pela perda, pela dor, pela fome, pelo desespero, pelo abandono afetivo, pela opressão. Estas são lições de violência e aparentemente as únicas ferramentas que se apresentam como potencialmente capazes de ajudar o ser humano diante da violência que sofre a não ser violento são: perdão e resiliência, advindos de algo que tem se perdido no decorrer da agitada vida da população, que é a capacidade de meditar no sentido da própria existência. Neste sentido, a violência surge como resultado da operacionalização do instinto de sobrevivência individual imediato em detrimento da razão de ser da coletividade contínua.

É importante lembrar que muito mais damos importância a violência em decorrência da disputa de territórios pela luta armada, mas não podemos nos furtar à compreensão de que existe grande violência na tentativa de convencer as pessoas explicitamente violentas de são elas as únicas responsáveis pela violência. A violência implícita que ocorre nos gabinetes à portas fechadas, nas jurisprudências casuísticas, nas mensagens subliminares propagas por seguimentos da imprensa são muitas vezes tão violentas quanto as ações da ignorância.

Neste sentido a vulnerabilidade social pode ser entendida como processo que decorre da sucessão de ações de violência praticadas ou sofridas pela sociedade no que concerne ao abandono afetivo, abandono moral, abandono ético, abandono político, abandono econômico, abandono intelectual, abandono humanitário, abandono social. O ser abandonado é por natureza, um ser vulnerável.

sexta-feira, maio 02, 2014

O Dia do trabalho - dia do trabalhador

O trabalho é o meio pelo qual o ser humano se conecta com a natureza, a ela transforma e por ela se faz transformar na construção de si mesmo e no equilíbrio com o planeta. Distante do trabalho o ser humano não é mais do que uma pedra que cresce de fora para dentro e é talhada pela ação do artífice estrangeiro. Foi trabalhando que o ser humano se viu capaz de libertar-se da ação opressora e pela libertação de si mesmo entender que não poderia oprimir a quem lhe oprimiu.
 
Nesta semana trabalhadores de cerca de oitenta países comemoraram o 1º de maio - dia do trabalho. No Brasil este dia é marcado pelos festejos comandados pelas centrais sindicais, líderes de partidos políticos, artistas e trabalhadores anônimos que ajudam construir este país.
 
Quando criança, ouvia os mais velhos comentarem: vou trabalhar. Sinônimo de fazer algo, produzir resultados, prover o sustento familiar.
 
Assim, trabalhadores da construção civil, artesãos, profissionais liberais e tantos outros definiam a ação interventiva sobre algo. Trabalhador, na linguagem da época, era um termo para definir homens e mulheres de bem, dignos de constituir família e do respeito da sociedade, já que pelo "suor do próprio rosto" eram capazes de prover o sustento familiar.
 
Havia na época, certa diferenciação do grau de importância do trabalhador conforme a natureza do serviço que executavam e conforme a nível de renda agregada ao trabalho executado. Trabalhadores que trabalhavam expostos ao sol ou à condições precárias de trabalho eram vistos como pobres coitados. O contato que tinham com os filhos pouco, pois quando saíam de casa, seus filhos estavam dormindo e quando retornava, também, já se encontravam dormindo. Cabia as mulheres a educação dos filhos e estas, vistas como donas de casa, não eram respeitadas como trabalhadoras, pois o fruto do trabalho que desenvolviam em suas árduas tarefas domésticas não podia se traduzir em renda direta. No caso de muitos dos pais de família, em meio a precarização do trabalho que desenvolviam, acabavam por construir precárias vidas sociais nos botecos aos fim dos seus expedientes de trabalho e nos finais de semana. Enquanto as classes mais favorecidas podiam levar seus filhos ao teatro, restaurantes, ou a programas de lazer mais sofisticados, as classes menos favorecidas podiam se tinham que se contentar com as atividades de rua, campos de futebol ou a programas que, necessariamente não implicasse em movimentação financeira. Aliás, na medida em que as classes menos favorecidas se endividavam, muitos pais de família buscavam refúgio nas bebidas alcoólicas, o que acabava por agravar ainda mais os problemas.
 
Por outro lado, muitos trabalhadores e trabalhadoras, cansados da inércia que se estabeleceu e dos sistemas injustos que os oprimia foram à luta por melhores condições de trabalho e de renda. Neste embate entre os donos dos meios de produção e os donos da força de trabalho muitos trabalhadores foram massacrados ao redor do mundo. E o massacre fortaleceu a luta. E pela luta vieram as conquistas.
 
Conquistas que para serem mantidas precisam ser revividas, discutidas e rediscutidas. Daí justificado seja o dia do trabalho, ou melhor dizendo, dia do trabalhador.
 
Viva o trabalhador e a trabalhador!