terça-feira, novembro 04, 2014

O que dizer sobre os filhos dos catadores que residem na Estrutural?

Hoje a equipe da Escola Técnica de Saúde de Planaltina foi convidada a participar de uma Roda de Conversa na Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação do Distrito Federal. O tema da conversa? A proposta de ações articuladas para a divulgação da coleta seletiva no âmbito do Distrito Federal.
Passadas cerca de duas horas e tendo expostos os pontos de vista que temos defendido junto à nossa instituição, um colega professor que já trabalhou em uma escola na "Cidade Estrutural" lançou o desafio:
"Por que não integrar os estudantes, filhos dos catadores, em ações sociais que incorram em processos de profissionalização, para que não permaneçam sujeitos à convivência no meio do lixão?"
Ora, a Política Nacional dos Resíduos Sólidos preconiza, dentre outras coisas, o fechamento dos lixões, a inserção dos catadores em processos de formação profissional, organização de catadores em cooperativas voltadas ao beneficiamento e comercialização de materiais recicláveis, com trabalho principiado em condições de dignidade humana, etc.
Quanto às crianças, naturalmente o Estatuto da Criança e do Adolescente em toda a sua complexidade garante a proteção da criança, inclusive do trabalho infantil, com matrícula e permanência na escola, em condições de plena dignidade humana.
Fato é que, oficiosamente, muitas crianças convivem em condições inapropriadas, inclusive no lixão da Cidade Estrutural. Lixão este que, já deveria ter sido fechado, mas que ainda permanece, para o desespero dos governantes e, infelizmente, para o contentamento de muitas pessoas que lá permanecem.
A Cidade Estrutural localiza-se ao lado do Parque Nacional de Brasília, local de esplendorosa beleza e cenário de importantes nascentes de águas cristalinas. Nesta cidade existe um complexo abandonado, no qual até há dois anos atrás funcionava uma escola de ensino fundamental e que foi fechada porque de lá brotam do chão, gases combustíveis e tóxicos que tornam o lugar, uma área imprópria para a convivência humana. Aliás, transitar pelas ruas da Cidade Estrutural é se submeter a um constante odor que paira no ar e causa náuseas à pessoas não acostumadas.
De quem é a responsabilidade pelos resíduos acumulados na Cidade Estrutural ou em outras localidades que ainda abrigam lixões? Minha responsabilidade, sua responsabilidade, nossa responsabilidade.
Enquanto o processo de separação dos resíduos para a coleta seletiva não se fizer eficiente no Brasil, cada um de nós seremos responsáveis pelos transtornos ambientais causados e pela permanência das pessoas nos lixões. A coleta seletiva possibilita geração de emprego e renda, favorece ao controle de pragas e ajuda a prevenir doenças.
Mas e as crianças?
As crianças permanecem acompanhando seus pais aos lixões para garantir aumento na catação de materiais recicláveis para melhoramento da renda familiar.
Acredita-se que materiais recicláveis ao serem destinado para as cooperativas, conforme prevê a legislação, possibilita que os catadores consigam melhorar a renda familiar, trabalhando menor quantidade de horas diante de melhores condições de trabalho. E ainda conforme a legislação, um ambiente legalizado de trabalho, naturalmente veta à presença de crianças e adolescentes para a realização de atividade laboral.
Mas cuidar das crianças, conforme observara o colega professor, não é apenas afastá-las do convívio dos lixões. É ofertar-lhes digno processo de escolarização na idade certar, possibilitar formação profissional de nível médio ou superior no tempo certo. Ou seja, dar as condições necessárias para que elas sonhem com a possibilidade de ter um futuro melhor do que teve seus pais e mães.
E cada um de nós, em nossa individualidade podemos colaborar para que a sucessão desses fatos ocorram: descarte apropriado dos resíduos por nós gerados é o primeiro passo. E isto é uma questão de consciência que não pode ser ensinada, mas que pode ser aprendida pelas pessoas que amam a natureza, as pessoas, os bichos. Este amor que Freire desejou ser lembrado enquanto ser humano.

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