sábado, junho 18, 2011

EDUCAÇÃO EMOCIONAL PARA FALAR

Muito se tem falado que a palavra falada para a pessoa certa e no momento certo é a palavra transformadora. Que temos dois ouvidos e uma boca, por isso devemos escutar mais e falar menos porque quem fala demais, fala o que não deve ser falado. Mas com base em que construímos a nossa fala?


Certo dia, fui convidado para participar de uma audiência pública na Câmara Legislativa do Distrito Federal para tratar da questão das Escolas Técnicas. Chegando lá, acompanhado de um certo número de alunos a alunas e trajando o uniforme escolar, sentei-me em uma das poltronas do auditório enquanto se dava início a composição da mesa diretora.
Passados alguns minutos, o deputado que presidiria a sessão entrou pelo auditório e cumprimentou as autoridades presentes. Ao ser anunciado pelo mestre de cerimônias, posicionou-se em seu lugar e foi chamando, um a um, cada autoridade convidada para a audiência.
Declarada a abertura da Audiência Pública, anunciou-se o primeiro orador que, iniciou sua fala cumprimentando a mesa, inclusive meus colegas presentes e, embora ciente da minha presença não fez referência alguma ao meu nome.
Senti vontade de me retirar da sessão. Algo que certamente o faria na época da minha juventude. Ao invés disso, me dirigi ao cerimonial e exclamei:
_ Vocês não vão convidar, ..., para participar da mesa?
_ Sim. Já vamos anunciar o seu nome.

Enquanto isso os alunos e alunas já manifestando a insatisfação com o "esquecimento" do cerimonial, por meio da apresentação de cartazes.

Minutos depois, já havia uma cadeira no melhor lugar da mesa para  que o professor pudesse ocupar. E sendo anunciado levantei-me sob os calorosos aplausos dos alunos e alunas que defenderam a minha convocação.

Naturalmente fui um dos últimos a ser convidado a fazer um da palavra. Enquanto aguardava o anúncio do meu nome, escutei cada interlocutor com a máxima atenção possível. Se por um lado não me sentia mais na obrigação de me pronunciar pelo tardio convite, por outro fui compelido a não desapontar os ouvintes porque investiram esforços em meu favor.

Enquanto meu ímpeto de juventude me instigava ao uso da palavra do protesto, minha calma da meia idade recomendava-me contribuir construtivamente para o debate em honra ao anfitrião e aos demais presentes.

Cinco minutos durou o discurso construído sobre a fala de todos os que me antecederam. Desconstruí parte do que foi falado e reafirmei a fala de outros, intercalando exemplos e citações. Falei para os outros e falei para mim mesmo:

_ Saúdo a platéia em nome do nosso anfitrião, o ilustre Deputado [...] querido em todo Distrito Federal. Saúdo a mesa em nome da aluna [...] aqui presente. Vim disfarçado de estudante sendo eu mesmo um eterno estudante da causa da educação brasileira. No tocante a educação profissional sou eu mesmo, um profissional leigo, que aprendi com meu pai, o ofício de eletricista e como profissional já na adolescência ajudei na criação dos meus irmãos. Tive, de certo, muita vontade de ingressar em um curso profissionalizante mas não tive a oportunidade porque meu tempo sempre esteve dividido entre o trabalho na oficina e a escola na qual segui com paixão e dela saí direto para a universidade pública. Pela qual lutei para que se mantivesse pública e agora vejo que a minha luta somada a de milhões de brasileiros não foi em vão. Ela cresceu, se fortaleceu e hoje é sustentáculo para uma das economias mais bem sucedidas da atualidade, graças ao Presidente saído do povo e do qual sou eterno eleitor. Para o cargo que se candidatar, certamente terá o meu voto. Não importa se é para prefeito de minha cidade ou para presidente do condomínio no qual resido, porque ele sim, fez valer o meu voto.
Sobre a educação profissional vale-nos lembrar que seu fortalecimento nasce do clamor dos brasileiros que desejam viver com dignidade, sendo cada um, capaz de conquistar o pão de cada dia com o suor do próprio rosto. Desejam eles contribuir para o sucesso na nação que cada vez mais busca se deslocar do estereótipo de país que só o que tem a oferecer é samba e futebol. Estes cidadãos aqui representados, que fazem jus ao exercício da cidadania ao cobrarem do Estado a solução para a contratação dos profissionais que a escola necessita para que possam concluir seus cursos no tempo proposto pelo próprio Estado. Reconheço que existe a carência de profissionais habilitados para o exercício do magistério e reconheço também que é legítima a aplicação da LDB quando determina que os bacharéis cumpram a complementação pedagógica para atuar em sala de aula. Por outro lado, sinto-me envergonhado porque eu mesmo, tendo habilitação para formar profissionais em nível superior, não encontro na Rede Educacional do DF, o amparo necessário para contribuir com este processo. Portanto, o que recomendo Senhoras e Senhores aqui presentes, é que possamos nos unir em favor dessa construção, para que os jovens brasilienses que não contam com o privilégio com o qual contei, sendo aluno de meu pai, tenham a oportunidade de realizar um curso técnico em uma de nossas escolas e, finalmente, bater no peito  e exclamar ao mundo que são cidadãos e cidadãs brasileiras. Obrigado.

Esta é a parte da fala que posso me lembrar. Preservo as pessoas, mas não os fatos.

Este acontecimento trouxe para mim, mais uma vez, a certeza de que precisamos de muita paciência para não nos perder nos discurso  
vazio enquanto tentamos reparação das supostas injustiça que nos são ocasionadas.
Ao equilibrar nossas emoções, teremos a possibilidade de provocar no outro a admiração e a sensibilidade para com a nossa causa. Quando acreditamos na nossa fala e a pronunciamos com respeito e humildade para com o nosso ouvinte o discurso se constrói se desenvolve por se só. A fala do outro é a preparação para a nossa fala.
O chileno Ruan Casassus afirma que quando iniciamos uma conversa com o outro, iniciamos, também, uma conversa em nosso interior. Nesta conversa, construímos o nosso falar para o exterior e ao falar para o outro, buscando o respaldo em suas próprias palavras, demonstramos que o ouvimos com atenção e respeito ao seu falar, por isso, nos tornamos dignos de, também, sermos ouvidos.

Tenho dito que não podemos confundir humildade com fraqueza. Embora ambos sejam importantes para o nosso fortalecimento não estão necessariamente interligados.

É preciso humildade para a aceitação de que somos fracos. Sabendo que somos fracos teremos as condições necessárias para fortalecer nossas mentes e buscar soluções que nos permitam o equilíbrio com os demais.
Os ratos fogem da nossa presença e mesmo assim existem 10.000 deles para cada ser humano.
O homem mais forte e musculoso do planeta não é o homem mais rápido nem o que consegue percorrer a maior distância sem que precise parar.
Antes de superar os limites do corpo, precisamos superar os limites da mente porque é a mente quem comanda o corpo.
Geralmente quando lalamos para a concordância de nossa vaidade, obtemos o resultado contrário ao do nosso pleito. Quando falamos, para a concordância do que convencionamos chamar de justiça, buscando a coerência do nosso fazer em benefício do outro, propagamos a possibilidade de que os nossos sentimentos encontrem ressonância na fala daqueles que, embora defendam posições distintas, envolvem-se na possibilidade de considerar a validade do nosso discurso.
O discurso verdadeiro não é aquele que emerge da leitura premeditada e com interpretação unilateral. Antes de tudo, adapta-se ao contexto presencial e nele se enriquece para surpreender o orador e a partir dele, surpreender aos demais.
O discurso verdadeiro é fiado palavra por palavra, enriquecido na construção histórica. Conscientemente eu não sei sobre o que vou falar, mas inconscientemente as palavras vão se encaixando para expressar o pensamento. E porque este não se constrói sem a necessária descarga de emoções que por sua vez recobram a necessidade de se completar.
A propagação de emoções incompletas conduzem à concretização de ações imperfeitas.
A primeira impressão é a primeira emoção. Para saber se a primeira impressão é a emoção mais acertada precisamos conhecer as emoções seguintes ainda que corramos o risco de nos confundir.
É importante temer o risco, mas fugir do risco, pode ser um risco ainda maior.
Para falar bem precisamos educar nossas emoções, considerar o que pode ser desencadeado a partir das nossas interferências. Reconheço que ficar calado quando há a necessária expressão de nossa fala pode ser tão prejudicial quanto falar quando há a necessária presença do nosso silêncio.
Termino esta carta acreditando que algo ainda precisa ser dito e admitindo que tendo falado tanto, possa não ter dito nada...



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