O alto grau de competitividade no qual se encontram os jovens na atualidade, bem como a peculiar incerteza quanto a profissão a ser seguida lhes impõem dúvidas que sob meu olhar poderiam ser facilmente dirimidas se o foco norteador fosse a solidariedade.
Nos últimos dias, tive a oportunidade de realizar alguns atendimentos que me proporcionaram tal reflexão.
Estando na porta do Centro Profissionalizante no dia em que iria ministrar a aula inauguram para alunos recém aprovados no concorrido processo seletivo para iniciarem um dos três cursos técnicos, recebi uma jovem que desejava conversar sobre as opções que se apresentavam diante de sua vida.
_ O Sr. é professor dessa escola?
_Sim.
_É que eu estou com uma grande dúvida. Realizei o processo seletivo para esta escola por cinco vezes seguidas e agora que passei, recebi o resultado do ENEM com bolsa integral para o curso de Contabilidade. O que o Sr. me recomenda? Devo cursar a faculdade ou o curso técnico? Estou diante de uma grande dúvida?
_ Não posso eu ser responsável por sua escolha, ela reside dentro de você, em parceria com sua dúvida. Os dois cursos recobram objetivos diferentes em grau de dificuldade e abrangência. Onde você mora?
_ .....
_Você trabalha?
_Sim.
_Você é casada?
_Sim?
_O seu marido lhe apoia?
_Ele disse que estará comigo na minha decisão.
_Você se sente em condições de arcar com o deslocamento para a realização de ambos os cursos?
_Sim.
_Você se sente merecedora de ambos os resultados?
_Sim.
_Se você optar por pelo curso técnico, alguém ocupará a vaga que lhe foi oferecida no curso superior. Se ocupara a vaga no curso superior, alguém ocupará a vaga que conquistou no curso técnico. Será um ato de solidariedade de sua parte, não ocupar as duas vagas ao mesmo tempo, visto que cumprem objetivos tão distantes. Você me perguntou e eu te digo, a resposta está em seu coração. Coisa certa é, você é merecedora da escolha que fizer, seja ela qual for.
_Muito obrigada professor, deixarei a vaga do curso técnico para uma outra pessoa. Esta é a minha escolha.
Me despedi da aluna e fui para a aula inaugural e a iniciei justamente relatando a história que se passou minutos antes. Em seguida perguntei aos presentes o que motivava a busca deles pelo cursos: a opção ou a falta de opção?
Após discorrer sobre a solidariedade, sobre o comprometimento social que o cidadão precisa ter para tomar para si apenas o que lhe pertencer e sobre a dedicação que um curso de formação exige. E mais ainda, ao afirmar que eles estavam ingressado em uma escola cujo nome foi forjado nos esforço dos que nos antecederam e que cabia a cada um garantir aquela história como parte do resgate da dívida social advinda do investimento do Povo Brasileiro em cada um de nós, pude contemplar em cada um dos presentes o sentimento vivenciado pela jovem que me abordou na entrada da escola. Contemplei, ainda que muitos foram para aquela primeira aula com a expectativa da decisão que viria a ser manifestada nos dias seguintes quando tive oportunidade de receber alguns daqueles presentes para me comunicar que estavam abrindo mão da vaga na escola em favor de uma outra escolha e para me pedir que convocasse os candidatos da lista de espera.
Essa é a escolha solidária. O ato de permitir que outros façam jus ao direito de escolha.
Eu, que tive a oportunidade de prestar dois vestibulares e ser aprovado em apenas um. De realizar um curso superior. De prestar apenas um concurso para me tornar um servidor público e para este ser aprovado. De ter tido a oportunidade de realizar o mestrado. Sinto-me grato por saber que existem pessoas agindo com responsabilidade social. São essas pessoas que fortalecem a sociedade e fazem com que o Brasil caminhe para frente.
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