segunda-feira, abril 30, 2012

A ESCOLA DO POVO E PARA O POVO - A IMPORTAÇÃO DE MÉTODOS

"Proponho, finalmente, a pedagogia do antimétodo, que recuse os modelos rígidos e os paradímas metodológicos. A pedagogia antimétodo força-nos a ver  o diálogo como uma forma de práxis social que, mediante a troca de experiências, seja informada pela reflexão e ação políticas  " (1)

A escola do povo e para o povo não é uma única escola, definida ou padronizada para todos os lugares, e sim a escola concebida com a participação da comunidade na qual será inserida. Pode ser uma escola para ricos ou para pobres, em países ricos ou em desenvolvimento, em comunidades urbanas ou rurais, contanto que tenha como meta principal melhoria da qualidade de vida da comunidade na qual se encontra inserida.

Nos últimos quinze anos temos assistido no Distrito Federal, a implementação de políticas educacionais como receitas preparadas para sanar as crises pelas quais passamos. Tais políticas, dotadas de vícios históricos muito mais causam retrocesso do que avanço na qualidade da educação. A saber:

Descontinuidade. Cada Secretário de Educação que tem passado pela SEEDF tem se esforçado para deixar a sua marca. Até então não seria de total descabimento se a construção de uma marca não fosse feita sob as cinzas do trabalho dos antecessores. Negando a história em construção, transformando o profissionais de educação em meros reprodutores de fórmulas adquiridas de outras localidades.

Vejo a descontinuidade na educação por analogia do que ocorreu no Brasil com alguns modelos de automóveis importados. Os consumidores tiveram sua satisfação em alta até o momento que precisaram fazer as primeiras revisões e descobrirem que faltavam peças de reposição no mercado. Da mesma forma que os carros rapidamente perderam o valor de mercado, os modelos educacionais também o perderam. Da mesma forma em que aprendi a desconfiar dos carros importados, aprendi a desconfiar dos modelos educacionais importados.

Até o ano de 2010, o GDF gastou milhões de reais com a compra de quites educacionais, em um programa denominado Ciência em Foco. Cada escola recebeu um certo número de Kits, a um custo estimado de R$ 35.000,00 a unidade. Ora, com esse valor, um professor de ciências dedicado seria capaz de montar um programa de trabalho com seus alunos, muito mais eficiente, sobretudo se a proposta do profissional levar em consideração as características da comunidade.

Em 1998, após receber o Prêmio de Ciências no Ensino Médio, concedido pelo MEC, por ter desenvolvido um material didático em parceria com os alunos de uma escola pública do DF, fui convidado pela Secretaria de Educação para escrever um projeto de trabalho que tinha por objetivo principal o incentivo à criação de "Espaços Ciência" nas escolas, visando despertar nos alunos o desejo de desenvolver projetos de ciência. No ano seguinte a SEEDF optou por comprar um projeto pronto, alijando os professores do processo do processo de construção e submetendo os alunos à mera manipulação de engenhocas importadas.
Sinceramente espero que não apareça mais ninguém pelo DF para repetir os mesmos erros de tantos outros que passaram por aqui. Projetos de ciência importados menosprezam a nossa capacidade criativa e transformam o ensino em um mero treinamento operacional.

Indiferença. Apesar da construção de uma política avançada de qualificação, que possibilitou o ingresso de centenas de professores(a) em cursos de mestrado e doutorado, a SEEDF não se preparou para permitir a esses profissionais, a aplicação dos conhecimentos apreendidos em seus processos de formação. Embora seja a própria SEEDF, demandante de tantas questões que precisam ser investigadas, não sabe aproveitar o potencial dos profissionais que se encontram à sua disposição. Sorte das instituições de nível superior que acabam por se beneficiar de um corpo técnico qualificado para compor os seus quadros.

Promocionismo. Ao descuidar-se da qualidade a SEEDF tem primado pela promoção em detrimento da preparação. Não são poucos os alunos que concluem o ensino médio confessando as deficiências do processo e as dificuldades que encontram para seguir adiante no processo de formação ou mesmo para o ingresso no mercado de trabalho. E este promorcionismo quando se estende aos profissionais da educação gera efeitos ainda mais desanimadores. Se for dito ao profissional que seu salário sofrerá reajuste em função da apresentação de certificado de um curso de formação, certamente o fará. Infelizmente a posse de um certificado nem sempre implica em maior motivação ou capacidade para o exercício de determinada função. Se assim o fosse, seria razoável afirma que a qualidade da educação do DF condiz com o nível de formação dos profissionais que atuam na educação.

Certo amigo costuma dizer que Planaltina é como um rico que anda vestido de trapos, porque tem elevado potencial turístico, mas não sabe aproveitar. Diria neste sentido que a SEEDF é também uma rica que se veste de trapos. Tendo ela mesma potencial para desenvolver uma proposta educacional inovadora, contenta-se com a reprodução de modelos falidos de educação bancária.

Felizmente e apesar de todos os atropelo promovidos pelos governantes  do Distrito Federal, existem muitos profissionais abnegados que não se cansam de tentar reinventar as suas práticas pedagógicas. Estes, assim o fazem ou porque se cansaram dos modelos importados ou porque encontraram na própria dificuldade um caminho próspero para trilhar. De um jeito ou de outro, são esses profissionais que constroem seus modelos de escola do povo e para o povo.

Por vários anos escutei da boca de professores que suas aulas de ciências seriam melhores se a escola fosse equipada com laboratórios de ciências. Contemplei laboratórios chegarem e serem sucateados nas escolas. Percebi que o maior laboratório que nós temos, nós desprezamos. O meio ambiente a nossa volta é o maior laboratório, compreendendo este, teremos condições de decidir se nos aprofundaremos em ensaios científicos.
Neste sentido a proposta de educação do povo e para o povo, considera, antes de tudo, o meio ambiente a nossa volta. É de dentro para fora e não o inverso, como pretendem aqueles que pensam que ensinar, é depositar informações as mentes dos estudantes.


(1) MACEDO, Donaldo. A pedagogia antimétodo uma perspectiva freiriana. In: A pedagogia da libertação de Paulo Freire/ Ana Maria Araújo Freire (Org). São Paulo: Editora UNESP, 2001.

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