Como falar em greve, sem ofender ao trabalhador, empregador ou usuário dos serviços? Como falar em greve dos profissionais da educação? Quem é que de fato, fortalece o movimento grevista? Como explicar para a sociedade a greve dos profissionais da educação?
Cresci enquanto estudante de escolas públicas, no vácuo de entendimento dos movimentos grevistas.
"Os professores vão parar"
Férias para alguns, mobilização para outros, reflexão para a sociedade. Quanto merece ganhar um professor? Quanto merece ganhar um trabalhador?
"Um trabalhador é digno do seu salário"
"O aluno, que é o cliente, é digno da aprendizagem"
"O patrão digno do pro labore"
Mas o que fazer no caso em que o governo faz as vezes do patrão, seu pro labore independe da produtividade do trabalhador e o norteador do debate é a Lei de Responsabilidade Fiscal?
Vestido na capa da Lei e tendo o tempo a seu favor o governo serve-se da "Arte da Guerra" para promover o cerco ao trabalhador e tão somente esperar que seus mantimentos se esgotem para vê-lo implorar pela rendição.
Assim como na Guerra, na Greve. Quanto mais demorada é a batalha, maior é o consumo de recursos e maiores as perdas para ambos os lados.
Lutamos contra o "Governo" mas atingimos tão somente ao aluno, filho do trabalhador (que também vive em crise e que almeja melhores salários), que em período de aulas comemora as nossas ausências e em período de greve não sabe lutar conosco porque sequer aprendeu a lutar por si mesmo.
Em período de Greve vale o corporativismo, a categoria que sai na frente leva consigo o peito aberto contra um inimigo fortemente armado. As outras categorias ficam só no aguardo a espera de lutar contra o inimigo já fragilizado ou de uma retirada estratégica percebendo que a primeira classe combatente saiu derrotada. Daí a diferença da Guerra. Na Greve a luta é de todos contra todos e de parte do todo contra o Patrão, que se associa com um grupo de cada vez, para derrotar o grupo manifestante.
A greve dos trabalhadores da educação está longe de ser uma luta real contra o governo e longe de ser uma aula de cidadania para o aluno. Se por um lado estestrabalhadores lutam por melhores salários, por outro lado o corte destes, inviabiliza a luta, porque, de acordo com a pirâmide das necessidades de Maslow, prevalecerão as necessidades fisiológicas. Com as contas pagas e a comida na dispensa, vamos todos à greve! viajar para a pescaria, aproveitar para fazer oposição ao governo indesejado, ficar em casa assistindo aos noticiários de TV, ir para a escola, cumprir horário e fazer de contas que está trabalhando, [...]. Sem as contas pagas e sem comida na dispensa, vamos retornar às aulas, prometendo vingança contra a mesma cor novamente. Se erramos com o vermelho, de 1995-1998, com o azul, de 1999-2006, com o verde e com o azul, de 1997-2010 e com o vermelho e com o azul, de 2010 em diante, certamente sofremos de imperfeição das células de nossa retina (cones) que no nosso caso, deveriam ser as responsáveis pela percepção dessas mesmas cores. Ou será que a imperfeição está nos bastonetes (responsáveis pela visão noturna)? De uma forma ou de outra, acredito que devemos abandonar a ideia de que nossas escolhas devem ser feitas apenas com base nas cores, porque o resultado já está dado.
Quantas greves existem dentro de uma mesma greve?
Sinto-me envergonhado porque estou atuando como dirigente e não estou debatendo com os companheiros nos movimentos sociais. Sinto-me envergonhado porque tantos se aproveitarem do legítimo movimento para criticar o governo que não ajudaram a eleger porque estiveram de mãos dadas com outros governos fisiologistas. Sinto-me envergonhado por ver que muitos enxergam o movimento grevista como oportunidade para gozar em dobro, as férias anuais. Sinto-me envergonhado quando escuto da boca de companheiros que estão na escola mas não estão dando aulas para "ajudar aos colegas" de trabalho em greve (mas que certamente não estarão com estes colegas no momento da reposição das aulas que deixaram de ser cumpridas).
Quem são os verdadeiros inimigos dos trabalhadores em real exercício de greve?
Está acontecendo uma batalha em que todos sairão perdendo? Se houver vitória será Vitória de Pirro?
Temo receber os melhores salários para trabalhar com as piores ferramentas, da mesma forma em que temo em receber os piores salários para trabalhar com as melhores ferramentas. Espero haver equilíbrio entre o que se ganha e o que se produz. Entre o que uns ganham e o que os outros ganham porque lá em nosso íntimo, a grande guerra não é por ganhos reais elevados, mas sim, por equidade compatível com o Custo de Oportunidade das classes. É muito fácil falar em valorização dos profissionais da educação, mas é muito difícil "Repartir o Bolo" com esses profissionais.
Para o bem de todos esperamos em as greves aconteçam segundo o Legal de Pareto.
E nesta última greve dos professores das escolas públicas do Distrito Federal mais ainda, por que certamente 80% das vitórias haverão de vir dos 20% dos profissionais que estão de fato na justa empreitada. Certamente também ocorrerá que 80% das derrotas serão atribuídas aos 20% que apoiam a greve não como um propósito coletivo, mas como o propósito da promoção pessoal ou do abandono dos ideais consagrados pela escola pública de qualidade com a qual sonhamos, mesmo porque sem este sonho, não temos pelo quê lutar.
Assistimos arrasados a mais uma derrocada do Distrito Federal, na qual a inoperância do poder público poderá não apenas impedir que os salários dos professores recebam aumento real, como também poderá fazer com que, no futuro em breve, outras greves ocorram na tentativa desesperada de fazer com que os salários atuais sejam mantidos.
De Thomas Malthus (1776-1834) tomo emprestado a razão. Desta vez digo: o crescimento exponencial das demandas do DF de longe já ultrapassou o crescimento aritmético da captação de recursos para suprir tais demandas.
Se algo não for feito, nem o legítimo direito de greve será suficiente para desencadear a reflexão necessária que garanta ao DF, sua sustentabilidade. E o que ora chamamos de desenvolvimento e qualidade de vida nos fará rastejar para reaprender com Estados cujos moradores serviram de força de trabalho para erguer o "Sonho Don Bosco" e que ora se sobressaem e que nos ultrapassam.
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