Ao que parece já não se pode mais falar que o impeachment da presidenta Dilma não ocorrerá. Tudo já está desenhado para ser consumado. Parte da população brasileira manifesta apoio, a câmara dos depurados por maioria qualificada diz não a presidenta, o supremo tribunal federal diz que o rito é legal, a polícia federal dá sinais de que sairá de cena, o empresariado comemora e a imprensa cria o clima de foi melhor assim.
Pobre povo brasileiro, que assina a plena autorização para a derrocada de todos os princípios éticos e morais sobre os quais foi desenhada a nossa constituição. No momento em que Michel Temer tomar posse como presidente da república já não mais poderemos falar em liberdade de expressão. Todas as falas realizadas contra a "verdade" dominante será motivo de intolerância. As transformações pelas quais passará o povo brasileiro irão muito além do que hoje se imagina. Não haverá mais fronteira entre o certo e o errado. O que determinará se algo será certo ou errado será tão somente a capacidade de convencimento daqueles que se autodeterminarem legítimos representantes do povo.
Nos últimos dias eu e muitos brasileiros estamos a vasculhar as notícias jornalísticas a procura de algo que lance luz sobre o nosso futuro aparentemente sombrio e logo observamos que não são muitas as pessoas que gozam de alguma credibilidade jornalística que se dispõem a realizar um debate sério e desapaixonado. De um lado, os que defendem acirradamente o impedimento da presidenta, de outro, os que julgam ser um golpe, o processo em curso.
Em todas as suas falas não me furto a pensar sobre quais dos jornalistas são verdadeiramente livres para proferir pronunciamento de forma imparcial. Em jogo estão seus empregos. Quem em sã consciência iria opinar contrariamente aos diretores de redação e de jornalismo? Qual diretor de TV, Jornal, Radio ou revista iria publicizar notícia contrária aos seus patrões? Quem restituiria seus empregos?
Sinceramente acredito que nenhum brasileiro pode garantir, em tempos atuais, a própria liberdade de expressão. Eu mesmo tenho esta consciência e por saber que as minhas cartas apresentam impacto nenhum na confusão de informações que se constitui em nosso país, continuo publicando. Trata-se muito mais de um desabafo interno do que na expectativa de despertar consciência nos que acreditam que podem trocar uma pessoa do comando do país e que tudo já estará resolvido.
Na verdade penso que todas as pessoas já sabem que nada estará resolvido. Acredito que muitas das pessoas que estão lutando pelo afastamento da presidenta Dilma sequer sabem pelo que estão lutando. Sequer sabem sobre o significado de "pedaladas fiscais". Sequer sabem que estão justificando os atos de pessoas muitos mais implicadas com a justiça do que aquelas a quem pretendem julgar. Ou será que sabem? Que aceitam que tem que ser assim mesmo? Jamais saberei. Mesmo porque os que desejam a saída da presidenta Dilma movem-se por um ódio absoluto ao partido dos trabalhadores. Que diga-se de passagem, submeteu-se a contradições absurdas como esta de se aliar ao PMDB acreditando que seria capaz de conter a sua fome de poder. Este partido dos trabalhadores que precisará ser reinventado porque as suas bandeiras foram consumidas pelo crescimento insustentável. Que sofreu traumas irreversíveis com os que deu origem a cisão que possibilitou a composição originária do PSOL e da Rede. Partidos estes, que curiosamente estiveram entre os que mobilizaram votos em favor de Dilma. PSOL que aliás, ao lado do PCdoB foram mais seguros em suas decisões do que os partidos de oposição que se uniram contrariamente a Presidenta.
Aliás, estes dois partidos foram muto mais agredidos durante os pronunciamentos dos deputados que votaram contra a presidenta do que o próprio PT. O primeiro por defender as bandeiras repudiadas por políticos de extrema direita e o segundo e não menos agredido por ser marca fiel na defesa de democracia e no combate aos abusos cometidos durante a ditadura militar brasileira.
Aliás, esta votação serviu muito mais para a reafirmação do que há de mais hipócrita no Brasil, do que para avaliar os atos da presidenta da república. Esta mácula jamais será esquecida das páginas do Congresso Nacional. Este congresso, que perdeu a autoridade de ser chamado de casa do povo, doravante será lembrado tão somente com palco no qual mais uma vez, a classe política voltou as costas para a democracia e a transformou em ditadura da lavagem cerebral.
Por fim, lamento pensar e escrever sobre este assunto. Mas o faço na esperança de tudo não tenha passado de uma ventania.
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