sexta-feira, novembro 02, 2012

Sentimentos


Cada ser humano
Ser da terra
Do pó, humificado
com a essência soprada pelo criador
Consola-se no abrigo da imaginação
Que se expande para além do que é compreensível
E do que pode ser explicado
Sentido, refletido, impregnado
Com cada gotícula do orvalho que não cessa
Que como brisa suave lhe cobre a alma
E eterniza suas emoções.


Cada ser humano
Ser da água
Mergulhado intensamente em suas dúvidas
Deseja comunicar seus sentimentos
Destrancar-se, eliminar a mágoa
Acalmar seu coração
Mesmo sabendo, precisa escutar
Mas não quer confessar
Deseja que outro ser humano possa captar seus sentimentos
E lhe contar
Que nada está perdido
Mas que tudo é só o começo
Seus olhos estão fechados
Não consegue ver
Mas precisa crê
Para não desesperar-se.

Cada ser humano
Ser do fogo
Deseja transformar-se em outra pessoa
Com menos erros e mais acertos
Ser melhor
Sentar-se nas primeiras filas
Deixar de ser ilha
Integrar-se aos demais
Comunicar porções de vida
Fazer chorar de alegria
Esquecer por um instante
E acordar para novos tempos
Mas precisa saber
O sonho pode ser realidade antecipada
Mesmo não concretizada
Pode indicar...
Enfraquecer o pesadelo
Quebrar o ciclo das maldições
Reescrever a história
Haver glória
É possível
Só precisa crê.

Cada ser humano
Ser do ar
Deseja voar
Conhecer novas paisagens
Estar no paraíso
Perceber o pulsar da vida
Escutar o passado
Ecoado nas catedrais das montanhas
Sentir-se livre
E ao mesmo tempo preso
Em harmonia com os sons
Transformador dos tempos
Esperançoso, criativo
Formador dos contornos das nuvens e das dunas
Que não se repetem
Nem se esquecem da função de onda  que une espaço tempo
E por humildade dar lugar aos outros
São seus rebentos
A continuidade que não poderia ter existido
Sem sua história
Sem o seu passar
Sem o seu caminhar
Sua importância é pelo contínuo
Muitos partiram poucos chegaram
Os que ficaram pelo caminho
Não serão esquecidos
São as marcas
A pavimentação
Frutos da criação
Estão unidos
Sendo meio são começo
Sendo começo são fim
Não estão perdidos porque sabem onde estão
Sendo vento podem retornar
Não para um recomeço de um caminho já percorrido
Mas para percorrer um novo caminho
Um novo desafio
Se for o seu desejo
Se sentir necessidade
Se houver saudade
Porque já crê.

Cada ser humano
Ser da luz
Deseja desprender-se da carne
Mas tem medo
Porque busca enxergar o que está fora
Esquece do que está dentro
No imenso abismo que só pode ser percebido
Se fechar os olhos
E concentrar-se num pensamento puro
Num sorriso
Nos seus semelhantes
Na tristeza que percebe no olhar do outro
Que implora pelo perdão
Pela libertação
Porque não entende os motivos do seu sofrimento
Do seu lamento
Da perda
Ao esquecer um pouco de si para perceber o outro
O ser da luz se encontra com sua origem
Seu criador
Que está longe
E ao mesmo tempo perto
Não pode ser visto
Porque a luz visível compreende apenas uma parte do espectro
O criador é o todo
Do alfa ao ómega
O infinito
Observado a partir do ponto que está no centro
Originário de todas as dimensões
Não só retas curvas ou formas definidas
O todo
Somos partículas do criador
Parte dele
Moldados em suas mãos
Com seu sopro de vida
Pré-destinados na essência da fé
No ato transformador
Na palavra
Na ação
Na razão
Na emoção
No puro ato de existir
Como parte e como o todo
Que reconhece força na própria fraqueza
E como fraco
Se fortalece na fonte que o gerou.

Caminhada

Seus primeiros passos
Arrastando-se no piso vermelho
límpido, semelhante espelho
Sem obstáculo para esmorecer.


Cabeça erguida, suave voz
Seu nome chama
Sorriso aberto de alguém que ama

Rio e mar, da nascente à foz.

A mão segura, se põe de pé
Nem mesmo anda e já quer correr
Por segurança, nada a temer
Com esperança, se achega a fé.

Pelas calçadas, foi comprar o pão
Por muita pressa conheceu o chão
Sangue na testa, não esmorecer
Esperiência pra poder crescer.

Já meninote fez a danureza
Sem o recreio, ainda sim lembrado 
Pela janela, receber o lanche
Precisava apenas subir na mesa.

Destino acerta com quem apronta
Da dita mesa caiu de ponta 
Com oito pontos na virilha
De volta ao plano, corrigir a trilha.

Sete dias, quanto passado
Já no caminho, mudou de lado
Pelo canal, queria passar
Pulso esquerdo, algo a quebrar.

Chegando em casa, pai encontrou
_ Mulher, vem cá! ao hospital
Braço engessado, logo colou
amor de pai e mãe, não tem igual.