Quando eu estava cursando o ensino médio, no início dos anos 90, havia um aluno na escola que se destacava dos demais pelos seus posicionamentos políticos e pela capacidade de aglomerar seus colegas em torno de uma causa, tanto que se tornou presidente do Grêmio Estudantil.
Naquela época eu era um aluno que não tinha hábito de me posicionar politicamente, as minhas preocupações voltavam-se muito mais para a aprendizagem dos conteúdos disciplinares.
Certo dia, um trágico evento marcaria para sempre a vida daquele líder estudantil, o seu amado irmão mais novo cometeu suicídio. Recordo-me da imagem dele sentado em uma cadeira de balanço como se não estivesse acreditando no que acontecera. Estava catatônico, não conseguia chorar e mal conseguia responder à nossa saudação quando da transmissão do nosso sentimento de solidariedade.
Aquele certamente foi um dos eventos que marcou bastante a minha vida na escola média. Pude perceber o quanto um ato daquela natureza tinha potencial avassalador na vida dos familiares. O líder jogou a toalha, transformou-se para sempre.
O que se passa na cabeça de um suicida?
Já tive a oportunidade de conversar com algumas dessas pessoas que, felizmente, não lograram êxito na tentativa, e quando lhes faço a temerosa pergunta, a resposta é recorrente: não sei.
Recordo-me de acompanhar algumas crianças que passaram por situações calamitosas e ainda sim, perceber o esforço que fazem para viver. É um desejo tão veemente que me emociono ao ao relembrar.
Pensando nisso, me pergunto, o que leva um pessoa a abrir mão desse direito? A querer dar cabo da própria vida?
Lembro-me de mim mesmo e de todas as situações difíceis pelas quais já passei e da inevitável pergunta que formulei e reformulei por tantas vezes:
_ Vale a pena viver? Por que preservar a minha própria vida?
Para mim, cristão convicto, a resposta não é muito difícil de ser reproduzida, mas e para aqueles que não partilham da mesma fé ou de fé alguma?
A resposta certamente seria mais difícil de ser formulada.
Convivemos a todo instante com os nossos mitos e medos, com o real e com o imaginário, com a esperança e com o desespero, com compreensão e com a cobrança.
A arte da vida se insere no limiar dos complementares e no equilíbrio que construímos diante das nossas vivências.
Sou muito suspeito para falar de vida e para defendê-la até o último fio porque acredito que existe por dádiva e não se limita a concretude da estrutura de carne.
Respeito as pessoas que buscaram no suicídio a saída ou a fuga para a dor que já não mais aquentavam. Para finalizar a confusão de consciência na qual se submergiram. Respeito e não posso contraditá-las porque não tenho como me posicionar em seus lugares para ver o que vêem e para sentir o que sentem no momento da decisão fatídica.
Hoje alguém me falou que pensou neste ato, mas que bom, que nem tentou. Que bom que ela pessoa conseguiu recobrar a consciência antes do ato desesperado. Que bom que ela pode me contar. Que bom que ela decidiu dar mais uma chance para si mesmo. Ser mais forte, lutar contra o sentimento avassalador que a envolve.
Ah se as famílias pudessem prestar mais atenção aos seus filhos e perceber o quanto estão sofrendo!
Ah se as famílias descobrissem que precisam conversar mais com os seus filhos e demonstrar o amor que sentem por eles!
Eles precisam escutar. Eles precisam ter certeza.
Os jovens têm dúvidas, são inseguros, precisam que alguém lhes fale, o quanto são importantes.
Conversar salvaria muitas vidas!
Não basta pão, não basta presentes. As pessoas precisam de pão e presença, de pão e compreensão, de pão e amor.
Amor no sentido real da palavra, não na palavra banalizada nas expressões da boca para fora. Amor que ampara, protege e dar segurança. Amor que gera confiança e transmite paz.
Suicidas!
Ah se cada um de vocês pudessem conversar com suas mentes e relembrar dos seus tempo intrauterinos, que lutaram com toda força para viver. Se vocês manifestassem apenas um pouco daquela coragem que demonstraram quando deram os primeiros passos. Se vocês...
... perceberiam que a nossa caminhada é um tantinho mais além.
Morreremos todos, mas apenas no tempo e no espaço pertinentes ao portal no qual encontraremos a PAZ.
Suicida,
Por gentileza, viva mais um dia.
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