"Não se pode ensinar nada a um homem, só é possível ajudá-lo a encontrar a coisa dentro de si"
Galileu Galilei
Ao examinar o dicionário certamente encontraremos a palavra ensinar indexada do sentido de transmitir conhecimento.
Transmitir pressupõe fazer algo chegar ao destino.
Tomando a mente do professor como ponto de partida e a mente do aluno como ponto de chegada, ensinar seria fazer com que o conhecimento do professor chegasse na mente do aluno. E esse chegar implicaria em aprender.
Esqueçamos um pouco o que foi exposto acima e busquemos uma analogia.
Para que possamos assistir a um programa de TV, precisamos ligar o aparelho e sintonizá-lo em um canal. Se o dado programa estiver sendo transmitido e se todos os mecanismos necessários ao processo estiverem em condições de funcionamento, o programa será assistido. Do contrário, sem sintonia, tudo será debalde.
Se por por uma dada infelidade o aluno fosse tido como um aparelho de TV e o professor como o transmissor. Poderíamos inferir que quando o programa estivesse sendo transmitido, bastaria o aluno sintonizasse a si mesmo como receptor, que captaria o sinal e poderia reproduzir a imagem e son conforme a origem.
Esta infeliz comparação traz consigo alguns percalços.
Já ouvi relatos de alunos e alunos nos seguintes termos:
_ Na hora em que o senhor estava falando, eu sabia, mas agora eu não sei mais.
Não é assim que funcionama os aparelhos de TV? A central de transmissão interrompe o sinal e eles também param de funcionar?
Os operadores das centrais de transmissão lançam as informações no ar através de ondas eletromagnéticas e quem estiver preparado e tiver interesse, que decodifique essas informações.
Na escola o professor pode se comportar como uma central de transmissão?
Para que isso aconteça, ele precisa, antes de tudo, garantir que suas ondas sonoras terão preponderância no recinto, porque se não ele se perde na articulação das palavras ou não consegue se fazer ser ouvido.
E se o aluno não gostar do programa exibido pelo professor, poderá trocar de canal?
E não é o que tentam fazer?
O professor ao transmitir seu programa, também está sujeito a ser receptor dos programas exibidos pelos alunos.
E se ele ignorar esses programas? Terá garantia de que também não será ignorado?
De minha humilde experiência em sala de aula posso afirmar com toda a certeza que quando o aluno não quer escutar o professor, nada do que se faça será suficiente para que este obtenha audiência.
Diferentemente do aparelho de TV, o aluno tem vontade própria. Diferentemente do aparelho de TV, alunos não são cópias produzidas em série e programadas para darem respostas esperadas para determinados estímulos.
Cada aluno é único e suas reações e jamais poderão ser padronizadas.
Defendo a ideia de ensinar no sentido apresentado por Galileu Galilei, de ajudar a encontrar os caminhos já conhecidos e também no sentido de desafiá-lo a ir além desses e, se necessário, criar caminhos.
Mas para ajudar uma pessoa a encontrar um caminho não precisamos antes saber aonde ela está?
Considerando que a rota a ser traçada depende do referencial inicial, acredito que sim.
Não devemos também saber se ela deseja sair de onde está?
Não devemos também saber para onde ele deseja ir ou para onde foi determinado que ela vá?
Pois bem, se o professor precisa saber coisas sobre o aluno, precisa aprender coisas sobre o aluno, ensinar implica em aprender. Isto porque o professor não é apenas uma fonte de informações, na qual os alunos ao se sentirem preparados para escutá-lo, as incorporam ao conjunto de que dispõem e já passam a utilizá-las com a mesma destreza de quem os ensinou.
O ponto de partida para a aprendizagem do aluno é a estrutura de tudo o que ele já experienciou, selecionou, reconheceu como conhecimento válido e já aplicou durante sua vida. Se a nova informação for fruto de sua busca e se lhe oferecer possibilidades mais compatíveis com os seus objetivos, é muito provável que deseje incorporá-la ao que já sabe e dela fazer uso.
Estou convencido de que é infrutífero o processo escolar em que o professor não procura aprender sobre seus alunos.
Em um processo escolar confiável, o professor se encontra em constante processo de aprendizagem sobre os conhecimentos que constantemente são atualizados e sobre os alunos que são seres humanos em formação.
Mas para desejar aprender sobre uma pessoa á preciso despertar-se para ver a pessoa, para criar e recriar conceitos dessa pessoa dentro de si, não fazer julgamentos prévios, respeitá-la em suas individualidades, desejar que aprenda e se mobilizar para que isso aconteça, não banalizar a derrota,...
... e isso só se faz por um ato de amor ao ser humano.
Ensinar, portanto, é um ato de amor, conforme afirma Paulo Freire em sua obra.
Não há como ser professor e ser feliz se não houver amor pelo que se faz. Não há como encarar uma sala de aula como todas as distorções presentes na sociedade atual, unicamente pelo salário de professor.
A considerar-se apenas o salário, nenhum pagamento seria suficeinte para recompensar um professor.
A consierar-se o aluno, nenhum pagamento é maior do que vê-lo apropriar-se do conhecimento para fazer gerar novos conhecimentos, ir além do mestre, ..., ser feliz.
O sentido de aprender jamais terá nobreza se não nos indicar um caminho para o que chamamos de felicidade, seja está duradoura ou não.
O sentido de ensinar jamais terá nobreza se não indicar um caminho para o que chamamos de felicidade, seja ésta duradoura ou não.
Daí concluo ser um ato de crueldade, negar a quem quer que seja, o direito de aprender. Ao não aprender o ser humano torna-se prisioneiro em uma cadeia sem muros. Os caminhos estão diante dele, mas ele não se sente em condições de caminhar.
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