sábado, setembro 25, 2010

INQUIETUDE CONVERTIDA EM AÇÃO

No ano de 2007 enquanto cursava o mestrado na Universidade de Brasília, concomitantemente com as atividades de regência de classe em uma escola pública do Distrito Federal, estava determinado a desenvolver uma proposta de trabalho cuja origem fosse a sala de aula.

O desejo de proceder desta forma partia da minha necessidade de produzir um tipo de trabalho que não tivesse um fim em si mesmo, mas tivesse reflexo direto na vida dos alunos, alunas e dos demais componetes da comunidade escolar.
Precisava, para tanto abranger ituações que suscitasse o interesse do corpo discente, ao mesmo tempo em que abrisse espaço para discussões mais amplas. Deveria ser algo eminentemente de caráter interdisciplinar.
O levantamento bibliográfico na época, que estava desenvolvendo sob a tutela dos meus orientadores abriam margem para algo correlacionado a experimentação, algo que defendíamos e continuamos defendendo como elemento essencialmente indissociável do ensino de Química em particular e do enino de Ciências como um todo. A considerar que a experimentação em Química, muitas vezes se entrelaça com a Física, Biologia, a Geografia, i.e. No entanto, o desafio maior seria a delimitação do tema, que deveria ainda, abordar situações nas quais os alunos tivessem a possibilidade de se apropriar de conceitos científicos, além de potenciais mudança de atitudes, frente ao processo a ser desenvolvido.
No tocante aos referenciais teóricos que desses sustentação ao processo metodológico, tínhamos em mente alguns algumas orientações prévias colhidas a partir da leitura de algumas obras de Paulo Freire, sobretudo o clássico Pedagogia do Oprimido, no qual o brilhante educador aborda inúmeros aspectos do processo pedagógico, e em especial as relações entre opressor/oprimido, bem como as buscas a serem travadas rumo a um processo libertador, quando o oprimido ao libertar-se da opressão precisa cuidar para ele mesmo não se tornar, também, opressor.
Aborda ainda, a necessidade de se fazer uma educação libertadora a partir da realidade concreta na qual se encontra o indivíduo. educação esta que é, também, um processo político, no sentido da busca pela compreesão da realidade existencial presente, a comprensão de cidadão como capaz de mudar a propria realidade, pela valozização do próprio conhecimento, das forças que atuam em sentido contrário ao da sua contrução de visão de mundo e das que corroboram no sentido do acontecimento desejavel pelo ser que tem no mestre, não o ser que ensina, mas o ser que junto consigo, também aprende.
Tais idéias puderam ser mais bem sedimentadas nas discussões realizadas com alguns colegas mestrandos, nas aulas ocorridas na própria Unb, de sorte que enquanto realizava o meu trabalho na escola, procurava sempre inserir elementos aprendidos na obra de Freire, como por exemplo o diálogo problematizador, a partir da situação concreta conforme ocorriam as aulas, especialmente quando percebia que os alunos e alunas manifestavam interesse diferenciado pelo objeto de discussão.
Certo dia, ao tentar desenvolver um processão de discussão mediante o estudo da destilação, que se fez por meio da observação do funcionamento de um destilador elétrico instalado no laboratório de ciências, comentei com a turma que, na minha opinião, aquele era um experimento interessante, mas apresentava o inconvenniente de consumir muita água, o que incorria em desperdício.
Havia naquela turma, um desses alunos que não copiam a matéria, muitas vezes deixam transparecer que nem um pouco se incomodam com o que está acontecendo na aula, mas quando fazemos algum tipo de provocação, costuma apresentar comentários, muitas vezes, desconsertantes. E foi o que fez:

_Por que o senhor não inventa um meio de fazer destilação sem desperdício de água?

De imediato respondi.

_ Lanço então, o desafio, se você construir a página da escola na internet, junto com você buscaremos esse meio?

Ora, era notório e do conhecimento de todos que o dito aluno sempre cochilava durantes as aulas porque sempre dormia muito tarde, em virtude de passar muitas horas navegando na internet. Nada mais dedutivo que tal aluno fosse capaz de se não soubesse, aprender os segredos da construção de páginas.

Um vez que o desafio foi por ele aceito, já aproveitei para fazer convite para que outros de seus colegas pudessem participar da equipe. Estendi o mesmo convite para as outras duas turmas da primeira série do ensino médio. E estabeleci que o trabalho se daria em horário contrário ao das aulas, não deendo incorrer em prejuizo pedagógico nas demais matérias, tampouco poderia ser realizado sob o pretexto da aquisição de nota. Seria algo, fundamentalmente voluntario.

Marcada a primaira reunião para um segunda feira, a partir das 14 horas, pudemos contar na ocasião com um grupo inicial de doze alunos e alunas, que oscilou nos encontros que se seguiraram para mais ou para menos. De sorte que 7 alunos e sete alunas participaram com maior regularidades e outros mais aprticiparam exporadicamente.

Mesmo que não tenha sido a nossa intenção inicial, o trabalho acabou sendo desenvolvido em três fazes:

Na primeira fase, desenhamos e construímos o aparato inicial, que reuniu em sua consepção, parte dos esquemas de circulação de água, empregados nas residências dos próprios alunos. Eles desenhavam esses esquemas, apresentavam aos colegas e explicava o funcionamento.

Mendiante as explicações, já eram apontados e listados os materiais empregados caso fosse decidido pela aquisição dos mesmos.

Foi a partir dos esquemas apresentados pelos alunos que  projetou-se como deveria ser o aparato a ser empregado no processo de destilação, cuja novidade maior seria a reciclagem de água. Como tal esquema envolvia a contrução de duas estantes metálicas cuja operacionalização fugia às nossas habilidades, optou-se por buscar a ajuda de um servidor da escola, e que de pronto se dispôs a nos ajudar realizando ele mesmo, a construção da estantes.

Cumprida esta tarefa, coube a nós levas as mãos à obra, seguindo o que havia estabelecido no esquema esboçado em papel e redesenhado em computador, utilizado as ferramentas do Word.

As tarefas consistiram na pinturas das estantes, instalação de motor bomba, caixas de água, tubulações, destilador, i.e. Sendo que os materiais dos quais a escola não dispunha, foram integralmente adquiridos com recursos da ajuda de custos oferecida pelo Cnpq em virtude do mestrado, os quais importaram em aproximadamente R$ 1.500,00 (Um mil e quinhentos reais).

Nesta fase do trabalho, os alunos tiveram a oportunidade de manipular ferramentas e realizar operações ainda desconhecidas em suas vidas. Atividades estas que culminavam mutas vezes em dúvidas. Dúvidas que suscitavam o debate, debate que se esperava, proporcionar a apropriação de conceitos científicos, além da apropriação do próprio modo de fazer e das relações pertinentes às atividades realizadas em grupo.

Neste sentido, o trabalho encaminhou-se para uma nova busca do ponto de vista metodológico, que culminou nas propotas apresentadas e defendodas por Vigotysk de educação pelo trabalho, na qual a educação se dá na própria prática do trabalho produtivo e Saviane com o sentido da politecnia, na qual trata-se da apropriação dos meis e das técnicas necessária para a obtenção de um produto, algo que transcende ao simples ato de fazer.
Desta forma, estes três referenciais teóricos não só fomentaram a compreenção do processo que foi  desenvolvido na escola, quento serviram de base para para que pudéssemos avançar nas ideias inicialmentes discutidas na universidade.

Quando terminamos de montar o aparato experimental e pecebemos que de fato podia-se fazer a reciclagem da água, percebemos que o laboratório da escola era pequeno para comportar o experimento e manifestou-se naturalmente no grupo, o desejo de que todos os seus colegas tomassem conhecimento que trabalho qua haviam realizado. Foi quando decidimos desmontar todo o conjunto e remontá-lo novamente, só que no pátio. Dessa forma todos poderiam ver e os alunos poderiam explicar o que haviam feito.

Sob a visão do grupo, este fator acabou consistindo em um grande achado. Ao mesmo tempo em que as pessoas viam o funcionamento do experimento, e aqui não referindo apenas aos demais alunos, e sim também aos professores, servidores e visitantes da escola, eram dadas inúmeros sugestões de experimentos complementares que podiam ser incorporados ao conjunto. tratou-se a partir de então, de um aparato a partir do qual se pode estudar as transformações da energia em processos distintos, principalmente aqueles dos quais a água faz parte.
Não demorou muito para que professores de química, física, matemática, biologia e geografia passassem a se utilizar dos experimentos para abordar em suas aulas algum aspecto constante dos experimentos e eles mesmos, reunidos com os alunos no pátio da escola, tiravam dúvidas e apresentavam comentários.
De sorte que experimentos tais como roda de água, gerador elétrico, filtros, i.e., passaram a integrar o conjunto e contribuir para a diversificação do trabalho.
Em consequência do sucesso apresentado na escola, o grupo de alunos se sentiu motivado a participar das feiras de ciêcnais ocorridas no Distrito Federal, bem como de concursos, o que resultou na conquista de prêmio concedido pelo MEC naquele ano.
Motivados ainda pela conquista do prêmio, o grupo decidiu que empregaria o dinheiro no desenvolvimento de sistemas de reaproveitamento de água na escola. Infelizmente o numerário só veio a chegar a escola no ano seguinte e a própria escola decidiu por realizar outros investimentos, adversos dos que o grupo planejara.
Os grupo de alunso se sentiu desprestigiado, e eu de certa forma, frustrado, para não dizer envergonhado.
Ao término do ano de 2008, fiz a defesa da minha dissertação e por felicidade logrei êxito. No entanto, alguns constrangimentos gerados em decorrência dos fatos já explicitados fizeram com que de certa forma eu procurasse esquecer o trabalho, ainda que difícil de o fazer, porque havia o compromisso da participação em congressos e da publicação de artirgos, além dos convites que recebi para falar do assunto.
Passados quase três anos da realização da defesa, só agora reencontrei tranquilidade para falar novamente sobre o assunto. É para mim o momento em que faço reviver as emoções oportuzadas pelo desenvolvimento da citada proposta, principalmente porque os alunos que participaram dela não apenas aprenderam conceitos científicos, mas se sentiram cidadãos e em muitos casos passaram a enxergar a água, com outros olhos. Alguns destes alunos seguiram carreira acadêmico e hoje são estudantes universitários em cursos correlacionados às ciências exatas. Outros de certo, que não foram para a universidade, mas nem por isso se sentem menos cidadãos, porque cuidam de suas vidas com dignidade. Ao me encontrar, lembram com alegria, dos nossos encontros, que muitas vezes extrapolava a discussão do conhecimento cienífico e ganhava a dimensão social, conforme o próprio Paulo Freire aborda em sua densa obra, quando de refere a um processo educativo no qual o ser humano tornar capaz de contruir a sua visão de mundo, sendo não apenas conhecedor da palavra, mas aplicador da mesma no contexto, a bem das relações de si mesmo para com os outros e dos outros para consigo.

Ao término desta carta, sinto como se estivesse cumprindo mais uma etapa das minhas inquietações e mesmo sabendo que poucos tomarão conhecimento do seu conteúdo, já considero o alívio do desabafo.

Não sinto mágoa do sistema, mas procuro compreendê-lo. O sistema é operado por pessoas. Que sentem, que amam, que acertam e que erram.

E retomando mais uma vez, as idéias de Paulo Freire, posso afirmar que o opressor que me fazia oprimido já não existe mais e eu, que me libertei, certamente não serei opressor do opressor, porque ele mesmo já não existe como tal.

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