quinta-feira, setembro 30, 2010

A VOZ DOS QUE VIVEM A E DA EDUCAÇÃO

Queridos e queridas alunos e alunas,

Conforme vocês puderam perceber, nesta semana eu não estive na escola. Estive representando a nossa cidade na Conferência de Educação da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal.

Para mim foi um momento ímpar. Eu o considero um momento histórico porque, pela primeira vez em muitos anos, os profissionais de educação tiveram a oportunidade para manifestar as suas angústias de sala de aula para além dos muros da escola. Manifestações estas, que também são inquietações minhas e de todos vocês.


Três temas estiveram em pauta, nesta conferência: Avaliação, Currículo e Formação Continuada de Professores.

Defendemos que o processo de avaliação não pode mais se limitar a aplicação de provas. Que tem que ser um processo realmente comprometido com o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem, no qual os alunos e alunas sejam vistos como seres em formação. Que têm sonhos, desejos, angústias, dificuldades.

Defendemos que o currículo contemple os anseios da comunidade escolar. Que seja permeado pela interdisciplinaridade e que seja construído coletivamente dentro da Proposta Político Pedagógica da escola, com a participação efetiva de toda a comunidade escolar e que não haja improvisos, sob o pretexto da falta de pessoal.

Defendemos que os profissionais de educação tenham a oportunidade de desenvolver o processo de formação continuada em suas próprias cidades satélites, com a plena descentralização da Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais de Educação - EAPE.

Defendemos que a Secretaria de Educação estabeleça um fórum permanente para que temas que são debatidos apenas no âmbito das escolas possam ser de conhecimento do todos e que em conjunto, possamos buscar as soluções mais adequadas.

Defendemos que o processo de recuperação contínua seja verdadeiramente implementado e que os alunos tenham reais condições de aprender sobre os conhecimentos nos quais se encontram em defasagem.

Defendemos uma Educação Humanista, pautada nos princípios legais regidos pela Lei de Diretrizes e Bases Nacionais e nos ideais de solidariedade humana, que valorizam o aluno enquanto ser humano em formação. Um ser humano que aprende em harmonia com a escola e que constrói sua visão de mundo para entender o mundo e para tomar decisões em plena consciência das consequências. Um ser humano que exercerá a sua cidadania de forma plena.

A conferência também foi palco de acontecimentos inusitados, mas sobre estes me furtarei comentar no momento, outrossim gostaria de comentar sobre uma postagem sincera que recebi a respeito da dificuldade de aprendizagem.

Como todos vocês sabem a educação brasileira tenta se firmar como educação realmente comprometida com a formação do cidadão. Por outro lado, os mecanismos dos quais dispomos para colocar em prática este sonho, ainda não são suficientes. A escola como um todo possui falhas. E quando eu falo a escola como um todo, não estou me referindo apenas aos espaços por nós frequentados para a educação formal (com rituais de aulas e exames). Estou me referindo, também, a escola de casa, das ruas, dos museus, i.e. Estou me referindo a escola dos valores que construímos e que nos prepara para enfrentar as etapas seguintes. Estou me referindo a escola da solidariedade que seria aquela nas qual as pessoas ensinam-aprendem com prazer. Também em troca de salários, mas não só, em troca de salários.

Sinto falta dos grupos de estudo, das conversas nas ruas, que não são apenas sobre novelas impregnadas de futilidades, mas daquelas conversas que envolvem todos os temas sociais em debate. sobre os quais precisamos participar e dar as nossas contribuições. Assim eu fui formado. Aprendi com crianças, com outros adolescentes, com adultos e com idosos. Aprendi escutando sobre temas que ainda hoje continuam em debate.

As dificuldades da escola de ontem, permanecem na escola de hoje. Mas na de ontem, costumava dizer minha adorável mãe, "as pessoas tinham fome de aprender, estudavam mais, se esforçavam mais". E porque não dizer, sonhavam mais.

Os nossos sonhos estão sendo contaminados pelos sonhos virtuais que nos levam ao processo de bestificação.

Eu sei meus queridos, que aprender matemática, química, português continua sendo difícil, mas eu sei também, que tem muita gente que aprende com mais facilidade e que estão dispostos a falar sobre seus segredos. Estão só esperando que alguém lhes peça ajuda. Já estão cansadas de oferecer, porque descobriram que o conhecimento, mesmo ofertado de graça, não conquista todas as atenções.

O desejo de aprender algo, tem que nascer no íntimo do sentimento das pessoas. Se este desejo não nascer, o conhecimento será sempre mais difícil, sempre mais complicado, sempre mais sem valor.

O meu papel e o de muitos outros, é fazer o convite para que cada pessoa possa aprender. É um convite! Aceitará quem manifestou em si, o desejo.

Você tem o desejo de aprender? Sua mente está em funcionamento?

Afirmativo! Então você está em condições de aprender.

Por outro lado você não quer aprender determinado conhecimento e quer conviver bem neste mundo sem ele. Não quer ser visto ou vista como incapaz, derrotado ou derrotada, você criou uma demanda para a qual a sociedade brasileira sabe que existe, mas não conseguiu se manifestar a respeito de forma coerente.

Nesta semana, tive a oportunidade de assistir a uma conferência, na qual a conferencista fez o seguinte questionamento?

_ Por que insistir em um currículo cheio de inutilidades para a vida dos alunos?

Imaginem só, uma educadora, com vinte e sete anos de experiência afirma que o nosso currículo contém inutilidades.

Eu digo que contém sim, mas para uns. Para outros não.

Na verdade a fala da professora vai ao encontro do meu próprio pensamento.

Eu acredito que o aluno deva voltar seus esforços no ensino médio para a área de estudo com a qual mais se identifica. Ele não tem que ser cobrado exaustivamente naquilo que pela sua própria natureza, já determinou que não quer aprender. Mas para isso é preciso que o governo como um todo, seja capaz de perceber isso e que as universidades acompanhem esse pensamento. Mesmo porque, todos nós sabemos que a maior parte dos objetos de conhecimento estudados no ensino médio serão banidos de suas vidas, no momento do ingresso na universidade ou em um curso profissionalizante.

Por fim, eu afirmo para você que fez a postagem:

Você não é de forma alguma as coisas negativas representadas em suas palavras.

Você é um ser humano em formação. Que sonha, que tem dúvidas, que precisa de compreensão. Jamais menosprezado ou menosprezada. Sempre compreendido ou compreendida.


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