A cada dia que se passa, mais e mais tenho a certeza de que não conheço as pessoas com quem trabalho. Vejo nelas apenas o que querem que eu veja e vez ou outra, por um golpe de sorte, posso contemplar os sentimentos de alguém, por traz de suas máscaras.
Dias atrás, eu conversava com um colega de trabalho sobre os tipos que as pessoas criam para se apresentarem em suas atividades profissionais e falávamos o quanto nós professores fazemos isso.
Eu mesmo sou na escola alguém muito diferente do que sou em casa.
Na escola sou o professor, e cada pessoa é o meu aluno e também meu professor. Me sinto corresponsável por cada pessoa lá presente. É como se eu fizesse parte de suas vidas. Me preocupo se estão bem. Se estão aprendendo. Se estão tristes ou se estão alegres. Tento mostrar para todos, a minha essência enquanto ser humano.
Fora da escola sou o cidadão comum, que paga suas contas, passeia com a família, vai à igreja e busca sempre a paz. Sem a família me sinto deslocado do mundo.
Por outro lado, existe algo que faço questão de demonstrar para todos e em todos os lugares. O amor que sinto pela minha esposa, pelo meu filho e pelas pessoas que fazem parte da minha vida. Quer estejam próximos ou distantes. Confesso que neste sentido me sinto um ser prenamente realizado. Posso ser muitas pessoas ou tipos de pessoas em uma só, mas em todos procuro conservar o amor pela vida.
Quando alguma coisa não está bem comigo tenho um refúgio. Dentro de mim mesmo há uma força que eu não sei de onde veio, mas sei que cada ser humano com quem convivi, me ajudou a construir. Esta força me conecta a uma outra, muito mais poderosa do que se possa descrever. Me devolve o equilíbrio e reestabelece os laços de felicidade que eu preciso para caminhar no dia a dia.
Outro dia alguém me contou que se sentia muito fraca e parecia ser derrotada. Se sentia culpada pelos acontecimentos em sua parentela. Alguém introjetou em sua mente que era assim.
Nestas condições a pessoa ia a escola para escapar de sua dura rotina familiar mas não conseguia se concentrar nas atividades escolares porque sua mente estava ocupada com o sofrimento adquirido gratuitamente. Para ela tanto fazia se reria punida ou não. Sua escolha estava feita. Sua angustia era não poder falar bem de seus familiares assim como escutavas seus colegas falarem. Estava no meio de muitos mas estava só.
Sua alternativa? Construir um tipo.
O que poderia eu dizer para essa pessoa? Apenas o que digo para mim mesmo.
Se alguém me disser que sou fraco. Digo somos fracos.
Se alguém me disser que sou perdedor. Digo somos perdedores.
Se alguém me disser que não posso. Digo não podemos.
Se alguém me disser que errei. Digo nós erramos.
Sempre nós porque sou no mínimo dois. E em reunião comigo mesmo posso refletir sobre o que falam de mim visando corrigir o curso da minha história se realmente nós decidirmos que somos culpados. Caso contrário seguiremos em frente e de cabeça erguida. Buscaremos não repertir os erros dos nossos pais nem imputaremos aos nossos filhos, os nossos próprios erros.
Por outro lado honraremos aos nossos pais com nossos acertos e finalmente quando eles se tornarem os nossos filhos, poderemos começar uma nova história, com tipos melhorados de seres humanos. E no momento em que eles puderem repousar no ventre da mãe terra, vasculharemos em nossas mentes e só teremos deles, boas lembranças. Teremos consirado suas desventuras como mininices de seres humanos em formação. E sentiremos que no fundo, no fundo, havia algo em nós, havia alguém conosco. Não estávamos sós.
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