Quando você acorda e encontra os seus entes queridos, o que você fala para eles?
No seu trajeto para o trabalho, o que você fala para as pessoas que encontra pelo caminho?
Quando você encontra seus colegas de trabalho, como você os cumprimenta?
Não sou muito velho, mas sou do tempo em que, em qualquer lugar, pelo menos um Bom Dia, Boa Tarde ou Boa noite as pessoas tinham para dar. E não importava se as pessoas se conheciam ou não. Cumprimentar era questão de honra.
Imaginem a cena:
O professor chega em sala de aula, se depara com a turma em alto nível de conversação. Ninguém entende o que se fala. Os gritos transformados em barulhos desarmônicos são percebidos para além dos limites do pátio da escola. O professor estufa o peito e estremece a sala de aula com sua voz.
_Silêncio!
Alguns alunos olham para o professor e repetem a mesma palavra.
_Silêncio!
E até que todos possam dar uma pausa na conversa, alguns minutos já se passaram. E o professor então exclama:
_Vocês são muito barulhentos. Desse jeito ninguém consegue trabalhar.
Os nervos do professor já estão à flor da pele e ele inicia sua explanações, mas a todo instante dar uma para no que estava falando para chamar a atenção dos alunos. E não demora muito para que pergunte:
_ Quem entendeu a matéria?
Ao perceber que pouquíssimos alunos o acompanharam reclama:
_Também, vocês não prestam atenção no que eu estou falando. É por isso que não aprendem. E se preparem porque esta matéria vai cair na prova. Façam os exercícios das páginas [...} que na próxima aula eu vou olhar os cadernos.
Chegada a aula seguinte o professor constata que a maioria dos alunos não fez a lição e muitos apenas copiaram o que seus colegas fizeram. Chegado o dia da prova o professor confirma o que já era previsto, a maioria da turma não atingiu a nota mínima para passar para a etapa seguinte. O sistema dá um jeitinho e no ano seguinte lá está o aluno para cursar a próxima série sem ter os famosos pré-requisitos necessários. E a história se repetirá.
Estou falando estas coisas que são representativas de mim mesmo. De um tempo em que havia esquecido, o quanto era importante falar Bom dia.
Hoje, 11:20 horas da manhã, chego em uma dada sala de aula e me deparei com a turma respondendo a um questionário sociológico aplicado por um policial militar e conforme sua solicitação concordei que continuassem com a atividade. Por volta das 11:35 todos quando todos já haviam respondido, recolhi os questionários e os repassei ao pesquisar, que logo se dirigiu para uma outra sala.
Olhei para a turma e a conversa dos alunos não me permitia sequer pedir silêncio. Me posicionei de pé com os braços cruzados diante deles e esperei até que a sala fizesse silêncio. E quando muitos esperavam uma bronca, eu expressei um sorriso no rosto e em alto e bom som lhes falei:
_ Bom dia, meus queridos alunos!
_Bom dia!
_ Vamos começar nossa aula?
_Sim!
_ Vocês fizeram a lição de casa?
Pude perceber que os alunos se contorciam para procurar o formulário recebido na aula anterior para que pudessem responder a alguns exercícios. Uns olhavam para os outros e perguntava se havia respondido. E logo percebi que a maioria não havia cumprido a tarefa.
_ Muito bem. Nós estamos na segunda metade do ano e vocês se encontram na terceira série do ensino médio. Acredito que todos vão conseguir passar de ano, mas tenho dúvidas sobre as chances fora da escola de quem não cumpre com as tarefas escolares. O meu papel aqui é apoiar vocês. Não vou fazer cobranças, nem culpar ninguém. Aqui neste espaço eu estou com vocês e sempre vou fazer o melhor de mim. Quero que vocês estejam comigo e não contra mim. Vamos começar nossa aula?
_Sim.
Esta foi uma das melhores aulas ocorridas com a minha presença nesta dita turma, neste ano. Eu senti que eles me escutaram e me acompanharam. Tiraram suas dúvidas e se propuseram a finalizar o exercício que havia sido iniciado. Tudo isso porque a aula foi iniciada com um Bom Dia.
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